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29/11/2017

Olimpíada de Matemática corre risco de acabar, diz Nova Escola

Reprodução revista Nova Escola

Uma das principais iniciativas no campo do ensino de Matemática no Brasil está ameaçada. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) enviou ao Congresso uma proposta de orçamento para 2018 que reduz drasticamente as verbas do Instituto de Matemática Pura e Aplicada do Rio de Janeiro (Impa). Se aprovada, a redução vai inviabilizar a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), pondo fim à competição criada em 2005 que envolve mais de 18 milhões de estudantes. As informações foram divulgadas pela Rádio CBN e confirmadas por NOVA ESCOLA.

“Em 2017, nosso orçamento deveria ser de 80 milhões de reais e tivemos só 55 milhões, o que já dificultou bastante o ano. Para 2018, se a proposta for aprovada, teremos só 39 milhões”, afirma Cláudio Landim, diretor do Impa responsável pela Obmep.

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A olimpíada é realizada por meio de um contrato firmado entre o Impa, o MCTIC (ao qual o instituto está subordinado) e o Ministério da Educação (MEC), que banca parte dos gastos totais com a elaboração e aplicação das provas e as premiações para estudantes e escolas. A Obmep custa ao país cerca de 45 milhões de reais – 2,50 reais por aluno, em média. A verba do MEC já está garantida, mas não é suficiente para cobrir as despesas.

Professores e alunos estão preocupados. Durante a cerimônia de premiação da edição deste ano, realizada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro no último dia 14, estudantes levaram cartazes de protesto contra os cortes. Há até uma petição on-line no site Avaaz com quase 6 mil assinaturas e que precisa chegar em 100 mil. A direção do Impa tem pressionado o MCTIC e os deputados da Comissão de Orçamento da Câmara a alterarem a proposta, mas, por enquanto não houve acordo.

Questionado por NOVA ESCOLA a respeito da situação, o ministério enviou uma nota em que afirma que “os valores para o orçamento 2018 ainda estão sendo discutidos e não há um detalhamento definitivo sobre cortes ou aumentos”. O texto diz, ainda, que o MCTIC “está em contato com suas entidades vinculadas e organizações sociais para garantir a continuidade de suas atividades”, e que trabalha junto aos ministérios da Fazenda e do Planejamento para recompor o orçamento.

“Um desastre”

As perdas que o Impa vem sofrendo nos últimos meses já atrapalham o funcionamento do instituto, um dos mais respeitados do mundo na área de Matemática. Funcionários foram demitidos e algumas iniciativas, como o programa de bolsas para atrair pesquisadores estrangeiros ao Brasil, descontinuadas.

Caso o orçamento de 2018 seja aprovado como está, as próximas vítimas serão, além da Obmep, os programas de formação para professores da Educação Básica atrelados a essa competição. “Lançamos em 2014 um programa focado em resolução de problemas, com 600 docentes de todo o Brasil. O desempenho das turmas desses professores melhorou muito na olimpíada. As médias saltavam de 15 para 31 pontos”, conta Cláudio. A formação só não acabou ainda porque o Impa conseguiu apoio de uma instituição privada, já que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) não repassou o valor das bolsas este ano.

Diante do risco, Cláudio lamenta. “Temos estudos que mostram o impacto que a olimpíada tem exercido sobre ensino. Sabemos o quanto a competição tem motivado alunos talentosos a estudarem e a ingressarem nesse universo da ciência. Descontinuar a olimpíada, praticamente a única política pública em Matemática do Brasil, seria um desastre.”

Reportagem de Pedro Annunciato