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01/08/2018

Alemanha, Índia, Irã e Itália conquistam a Medalha Fields

Notáveis e promissores, quatro pesquisadores nascidos em diferentes países – Alemanha, Índia, Irã e Itália – são os ganhadores do mais importante prêmio da matemática mundial, a Medalha Fields. Entregue pela primeira vez em 1936, a láurea é um reconhecimento a trabalhos de excelência e um estímulo a novas realizações.

Concedida a cada quatro anos no maior encontro mundial da área, o Congresso Internacional de Matemáticos (ICM, na sigla em inglês), este ano, ela será concedida a Caucher Birkar, Alessi Fegalli, Peter Scholze e Akshay Venkatesh, em solenidade na abertura do ICM 2018, em 1º de agosto, no Riocentro.

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Idealizada pelo matemático canadense John Charles Fields para celebrar os grandes feitos na área, a medalha já foi conquistada por 56 estudiosos das mais diversas nacionalidades, entre os quais Artur Avila, pesquisador extraordinário do IMPA, agraciado em 2014, na Coreia do Sul. Por sua importância para a área, a láurea é citada como equivalente a um Prêmio Nobel na Matemática.

Os vencedores da Medalha Fields são selecionados por um comitê de grandes especialistas, nomeados para tal pela União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês), a organização supranacional patrocinadora dos ICMs. A cada quatro anos, são escolhidos até quatro pesquisadores de até 40 anos de idade. Além da medalha, há um prêmio em dinheiro no valor de 15 mil dólares canadenses.

Conheça os ganhadores da Medalha Fields 2018:

Caucher Birkar (Universidade Cambridge)

A dedicação de Caucher Birkar ao sinuoso e multidimensional mundo da geometria algébrica – com suas elipses, lemniscatas, ovais de Cassini, entre tantas formas definidas por equações – lhe valeu, em 2010, o prêmio Philip Leverhulme. Essa láurea é destinada a acadêmicos excepcionais, com carreira especialmente promissora. Além de merecida, considerando as contribuições substanciais de Birkar na área de geometria algébrica, a conquista do Philip Leverhulme também foi um vaticínio: passados oito anos, o pesquisador da Universidade de Cambridge, no Reino Unido ingressa, aos 40 anos, no seleto grupo dos ganhadores da Medalha Fields.

Birkar, que em 2018 já experimentara o reconhecimento do trabalho pelo London Mathematical Society Prize, nasceu em 1978, na pequena Marivan, província curda no Irã de cerca de 200 mil habitantes, na fronteira com o Iraque. Cresceu e teve o interesse despertado pela geometria algébrica, campo de interseção entre fórmulas e formas que, séculos antes e na mesma região, atraíra a atenção de Omar Khayyam (1048-1131) e Sharaf al-Din al-Tusi (1135-1213).

Após o bacharelado em Matemática na Universidade de Teerã, Birkar mudou-se para o Reino Unido, onde se tornou cidadão britânico. Em 2004, concluiu o PhD na Universidade de Nottingham, com a tese “Topics in modern algebraic geometry”. Sua principal área de interesse é a geometria birracional. Dedicou-se a aspectos fundamentais de problemas-chave na Matemática moderna – como modelos mínimos, variedades de Fano e singularidades. Seus trabalharam solucionaram conjecturas antigas.

Em 2010, ano em que foi laureado pela Fondation Sciences Mathématiques de Paris, Birkar – em conjunto com Paolo Cascini (Imperial College London), Christopher Hacon (Universidade de Utah) e James McKernan (Universidade da Califórnia, San Diego) – escreveu o artigo “Existence of minimal models for varieties of log general type”, considerado revolucionário para a área. Por esse trabalho, o quarteto também recebeu o Prêmio Moore 2016, da American Mathematical Society.

Alessio Figalli (ETH Zürich)

Nascido em Nápoles, na Itália, em 2 de abril de 1984, Alessio Figalli descobriu tardiamente o interesse pela ciência. Até o Ensino Médio seu maior interesse era jogar futebol. O treinamento para a Olimpíada Internacional de Matemática (IMO) o despertou para o tema e, ao ingressar na prestigiosa Scuola Normale Superiore di Pisa, escolheu a Matemática.

Figalli concluiu em 2007 o doutorado na École Normale Supérieure de Lyon da França, sob a orientação de Cédric Villani, que também foi distinguido pela Medalha Fields. Em 2010.

Figalli foi pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científicas (CNRS, na sigla em francês), da École Polytechnique (ambos na França) e da Universidade do Texas (EUA). Atualmente é professor da renomada Escola Técnica Federal (ETH) de Zurique.

É especialista em equações diferenciais parciais e cálculo de variações, uma área clássica da matemática que remonta a leis fundamentais da Física, como a lei da mínima ação (“lei do menor esforço”). Tem importantes resultados na área de transporte ótimo e suas relações com as chamadas equações de Monge-Ampère. Entre os seus trabalhos mai recentes destaca-se a prova da Conjectura de De Giorgi em dimensão menor ou igual a 5.

Figalli foi palestrante convidado no ICM 2014, realizado em Seul, capital da Coreia do Sul, 4 anos atrás. Conquistou os prêmios Peccot-Vimont (2011), EMS (2012), Cours Peccot (2012), Medalha Stampacchia (2015) e Feltrinelli (2017), entre outras distinções.

Peter Scholze (Universidade Bonn)

Com apenas 30 anos, o alemão Peter Scholze, nascido na cidade de Dresden,  é considerado pela comunidade científica um dos matemáticos mais influentes do mundo. Aos 24 anos, já se tornara professor titular da Universidade de Bonn. Scholze impressiona os colegas pela capacidade intelectual desde a adolescência, quando conquistou três medalhas de ouro e uma de prata na Olimpíada Internacional de Matemática (IMO).

Peter Scholze concluiu a graduação e o mestrado em tempo recorde, cinco semestres, e começou a ganhar notoriedade no universo de pesquisa matemática aos 22 anos, após simplificar uma prova matemática complexa da teoria dos números, de 288 para 37 páginas. Especialista em geometria algébrica aritmética, ele se destaca pela capacidade de enxergar com profundidade a natureza dos fenômenos matemáticos e simplificá-los em apresentações.

Aos 16 anos, ainda aluno do Heinrich-Hertz-Gymnasium — colégio que dá grande ênfase à matemática e às ciências naturais —, Scholze queria estudar a solução do Último Teorema de Fermat, de Andrew Wiles. Ao se deparar com a complexidade do resultado, percebeu que estava no caminho certo ao escolher a Matemática como profissão.

Scholze foi palestrante convidado do ICM 2014, em Seul (Coreia do Sul), e será plenarista este ano no Congresso do Rio de Janeiro. Ele tem sido reconhecido por suas contribuições para a área de geometria algébrica aritmética e acumula alguns dos mais importantes prêmios da Matemática, como o prêmio da European Mathematical Society (2016), os prêmios Leibniz (2016), Fermat (2015), Ostrowski (2015) e Cole (2015), a Clay Research Fellowship (2014), o prêmio SASTRA Ramanujan (2013), Prix ​​and Cours Peccot (2012) e, agora, a Medalha Fields (2018).

Akshay Venkatesh (IAS)

Conquistar a honraria maior entre os matemáticos do mundo antes dos 40 anos chama a atenção, ainda que a vida de Akshay Venkatesh seja marcada por precocidades. Nascido em Nova Déli, capital da Índia, em 1981, e criado na Austrália, aos 12 tornou-se medalhista da Olimpíada Internacional de Matemática (IMO). A partir daí, mergulhou na área, iniciando uma trajetória notável. Ingressou no Bacharelado em Matemática e Física na Universidade de Western Australia, quando ainda era um adolescente de 13 anos.

Aos 20 anos, terminou o PhD na Universidade de Princeton e logo se tornou professor no MIT (Massachusetts Institute of Technology), ocupando uma posição de prestígio ofertada a recém-doutores de grande destaque na área de Matemática Pura, já assumida por pesquisadores famosos, como o americano John Nash (1928-2015).

Ao sair, em 2004, tornou-se Clay Research Fellow e foi nomeado professor associado no Courant Institute of Mathematical Sciences, da New York University. Desde os 27 anos, é professor da Universidade Stanford e, a partir deste ano, da Escola de Matemática do Institute for Advanced Study (IAS).

Venkatesh tem os pés na Teoria dos Números – área que trata de questões abstratas e sem aplicação conhecida até a chegada da criptografia –, mas flana com desenvoltura em tópicos relacionados, como Teoria da Representação,Teoria Ergódica e Formas Automórficas.  Munido de senso investigativo criterioso, criatividade e olhar que vai além das fronteiras, detectando conexões impressionantes entre áreas diversas, vem dando contribuições fundamentais em múltiplos campos da pesquisa em Matemática.

Não à toa, sua pesquisa já havia sido reconhecida por prêmios destacados como Ostrowisk (2017), Infosys (2016), SASTRA Ramanujan (2008) e Salem (2007). Palestrante convidado no ICM 2010, ele repetirá o feito em agosto, no Rio.