Navegar

30/11/2018

No Instagram, os múltiplos sentidos da Matemática

Professora diante de cartazes e desenhos criados por estudantes

Daniela diante de material criado pelos alunos no projeto sobre o Homem Vitruviano

A aula é de Matemática, e aluno algum faz expressão de que está diante do bicho-papão. A situação, rara para a maioria dos professores, é rotineira na vida da educadora Daniela Neroni, e uma das ferramentas usadas está ao alcance de um clique.

Ficou curioso? Dá uma espiada no Instagram, na conta Matemática Faz Sentido (@matematicafazsentido), que Daniela criou há pouco mais de dois anos para compartilhar conteúdo sobre Matemática e Educação. Os 434 posts escritos até hoje versam sobre as experiências em sala de aula, sugestões de leitura na área, literatura infantil, jogos de tabuleiro e outras ferramentas que podem ser muito interessantes para mostrar quão plena de sentidos é a Matemática.

Leia também: IMPA é bicampeão no Prêmio Jatobá de Comunicação
Pitágoras não é o autor do teorema que carrega seu nome
Matemático pode estampar nova nota de 50 libras no Reino Unido

Analista de sistemas e pedagoga, Daniela, 43 anos, decidiu unir Matemática e Educação há mais de 20 anos e, desde o início, buscou seguir um caminho diferente do que vivenciou quando frequentava os bancos escolares.

Duas crianças brincando de jogo de tabuleiro

Daniela apresentou a Mancala às crianças, jogo de tabuleiro africano

“Antigamente, as pessoas achavam até que a Matemática era inata. Se não tivesse habilidade de entender logo, acabou. Era decorar a tabuada e fazer exercícios repetitivos. Quis entrar na área para mostrar que não precisava ser assim”, conta, avaliando que, apesar das dificuldades que ainda persistem na Educação Básica, o ensino avançou, com a inserção de metodologias mais lúdicas, adotadas até em escolas mais tradicionais.

Com as cinco turmas de 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Eleva, em Botafogo, Zona Sul do Rio, Daniela exercita a criatividade e aposta nos desafios ao preparar as aulas. Ao elaborar uma aula sobre regularidades, lembrou de um texto sobre minhocas, que, para quem não sabem, possuem pares de corações: dois e dois, três e três, cinco e cinco, enfim, até 15 pares de coração. Alguma ideia sobre como foi a aula? Levou as 117 crianças para catar minhoca na horta da escola e aprender Matemática, literalmente, pondo a mão na massa. “Elas ficaram loucas. A gente catava a minhoca, explorava e depois desenhava as regularidades no caderno”, conta ela.

Minhoca na mão de uma criança

Descobrindo matemática até nas minhocas

Para ensinar unidades de medidas, padrão e não padrão, pensou em algo diferente da usual régua e se inspirou no Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci (1452-1519). Feito em 1490, o desenho mostra uma figura masculina, com braços e pernas esticados dentro de um círculo e de um quadrado, em posições sobrepostas, representando as dimensões.

“Lembrei de como ele mostrou que o corpo humano serve como medida. Mostrei a foto do Leonardo da Vinci e comecei falando que, na época dele, não exista o metro. Na cabecinha das crianças, algo impensável. Contei que ele fez vários experimentos sobre medidas e depois reproduzimos isso”, detalha a professora, lembrando que as turmas não acreditaram quando ouviram, por exemplo, que somos a medida de quatro cúbitos (antebraços). Após as comprovações, tudo foi registrado no papel. Depois, com o uso de um aplicativo, cada criança se transformou em um Homem Vitruviano.  “Falamos sobre medidas padrão e não padrão e, além de régua e trena, medimos com blocos de Lego e borracha.”

O importante, observa Daniela, é aproximar o conteúdo matemático do dia a dia. Recursos, segundo ela, não faltam. “Às vezes, você lê no livro que a pessoa foi ao mercado e comprou mil laranjas. Quem faz isso? Só quem trabalha na Ceasa (Centrais de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro). Quando digo isso, as crianças morrem de rir. Procuro tentar resolver situações que fazem parte da vida delas. Digo sempre que a Matemática está em toda parte. E mostro. Como? No cabelo, por exemplo. A gente conversa, não é discurso pronto”, diz, garantindo que até hoje não ouviu aluno algum questionar o uso da Matemática.

Cartaz com frases sobre a matemática no circo

No circo tem matemática? Tem sim, senhor!

No Instagram, Daniela mostra que para tornar a aula criativa e instigante não é obrigatório aposentar os tradicionais livro e caderno, mas abrir o olhar para outras possibilidades de apresentar o conteúdo curricular.  Ela tem paixão, por exemplo, por jogos de tabuleiro, que divertem e estimulam o raciocínio lógico. A troca tem sido maravilhosa, segundo ela. Um público genérico, formado por estudantes, educadores e pais de várias partes do país e do exterior, curte o conteúdo e entra em contato.

“Tem uma menina da Indonésia que me segue, curte e faz várias perguntas. Outro dia, uma professora quis saber como fazer a experiência do Homem Vitruviano em uma escola com poucos recursos. Pode desenhar com papel e canetinha ou usar arame. Há muitos outros recursos. Fico feliz em compartilhar”, diz, observando que se o aluno entender o processo de construção do conhecimento, facilitado pela contextualização do conteúdo, logo aprende que a Matemática faz múltiplos sentidos.

Leia também: Serrapilheira abre inscrições para apoio à pesquisa científica
Entre o distrito de Lagoa da Cruz (PB) e o Canadá, a Matemática