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26/01/2018

'Não me recordo de outro país que tenha feito esse percurso'

Reprodução da Folha de S. Paulo

Numa época em que predominam notícias ruins para a ciência nacional, como a queda expressiva de recursos para a área e a ida de pesquisadores para fora do país, a matemática brasileira acaba de proporcionar um alento.

O país foi promovido para o grupo de elite da matemática mundial, o chamado Grupo 5, que reúne as nações mais desenvolvidas na pesquisa da área.

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O anúncio foi feito nesta quinta-feira (25) na sede do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), no Rio, uma das instituições mais prestigiosas do mundo.

“Se houvesse um campeonato mundial da matemática, é como se tivéssemos subido para a primeira divisão da competição”, compara Marcelo Viana, diretor do Impa e colunista da Folha.

Essas “divisões” são estabelecidas pela União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês), organismo que congrega as sociedades matemáticas de nações de todo o planeta. Ela divide seus 76 países-membros em cinco grupos, por ordem de excelência.

O Brasil aderiu à IMU em 1954, entrando, assim, no Grupo 1; em 1978, ascendemos ao grupo 2; ao 3, em 1981; e, em 2005, ao Grupo 4. O país agora fará companhia à Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia.

“Não me recordo de outro país que tenha feito esse percurso”, afirma Viana. As outras nações, com bem mais tradição na pesquisa matemática, já foram admitidas nos grupos mais altos.

INFLUÊNCIA

Com a ascensão, o Brasil ganha mais peso e influência nas decisões relacionadas ao mundo da matemática e passa a contar com cinco votos na assembleia geral da organização.

Paolo Piccione, professor da USP e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), vê também um possível efeito interno. “A chegada do Brasil ao Grupo 5 mostra que o país tem potencial para se relacionar com as nações cientificamente mais desenvolvidas do mundo. Mostra que talento não falta por aqui.”

“Além disso”, prossegue Piccione, “o país consolida sua posição de referência na matemática dentro da América Latina”.

A promoção do país à elite da matemática mundial também é um reconhecimento de tudo o que foi feito nas últimas seis décadas no país.

Marcelo Viana relembra uma trajetória que começa na criação de órgãos, como o CNPq (agência de fomento) e o próprio Impa, no anos 50, passa pelo fortalecimento da pós-graduação nos anos 1970, quando começamos a formar pesquisadores de ponta no país, passa pela consolidação do Impa como instituto de gabarito internacional, nos anos 1980, e chega na medalha Fields (prêmio máximo da matemática) dada a Artur Avila em 2014.

Os número não mentem. A evolução da produção científica do Brasil é notável. Em termos absolutos, nossos pesquisadores passaram, nos últimos 30 anos, de 253 artigos publicados em revistas especializadas para 2.349. Proporcionalmente a produção dos matemáticos brasileiros passou, nesse período, de 0,7% de todos o artigos para 2,35%.

Também cresceu de maneira expressiva o número de alunos de doutorado e de programas de pós-graduação em matemática.

Em 1970, por exemplo, havia apenas cinco cursos de doutorado na área, ante 30 atualmente. Os alunos de doutorado, que eram 677 em 2007, hoje são quase 1.400.

A isso se somam outros fatores, por exemplo, a crescente presença de matemáticos brasileiros entre os conferencistas convidados para o Congresso Internacional de Matemáticos, o maior evento da área, que só ocorre a cada quatro e cuja próxima edição será realizada em 2018 no Rio de Janeiro.

Reportagem de Fernando Tadeu Moraes e Luisa Leite

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