Mulheres: da desigualdade ao exemplo inspirador
Alunas da Universidade de Brasília (UnB), Hanna Carolina da Silva Rezende, de 24 anos, e Melissa de Sousa Cruz, de 21, resolveram transformar em pesquisa a grande disparidade na presença de homens e mulheres na faculdade de Matemática. Com um levantamento das matrículas em cada semestre, mostraram que o número de estudantes homens atualmente é o dobro de mulheres. Há dez anos, a diferença era ainda maior, com uma aluna para cada três alunos.
“Há um grande contraste entre homens e mulheres na Matemática, e nós decidimos pesquisar essa diferença na UnB. Estamos melhorando muito devagar”, afirmou Hanna em apresentação no Congresso Internacional de Matemáticos (ICM 2018), que vai até 9 de agosto no Riocentro.
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As diferenças vão muito além da graduação. O levantamento mostra que, embora a universidade forme mestres em Matemática desde 1964, somente em 1973 uma mulher ganhou esse título. O doutorado, iniciado em 1978, teve apenas homens formados até 1995.
Hanna e Melissa dedicam-se agora a uma pesquisa sobre a disparidade de gênero entre professores. “A ciência sempre foi vista como uma área masculina. Também estamos procurando explicações sobre onde começa essa desigualdade. Acredito que venha desde a passagem do ensino fundamental para o médio”, afirmou Melissa.
Antes da apresentação das futuras matemáticas Hanna e Melissa, o professor nepalês Bhadra Man Tuladhar, fundador da Universidade de Katmandu, fez uma palestra inspiradora para quem luta pela redução da desigualdade de gênero. O pesquisador contou a história da russa Sofia Kovalevskaia, a primeira mulher a receber o título de doutora em Matemática no mundo, na Universidade de Gottingen, Alemanha, em 1874.
Sofia enfrentou todo tipo de obstáculo para continuar os estudos depois de concluir o curso secundário, a ponto de ter de se casar para conseguir deixar a Rússia. Viveu na Alemanha e na Suécia, onde dedicou-se a pesquisas que a fizeram ser considerada um dos profissionais mais importantes da Matemática no século 19.
O trabalho de Sofia sobre a revolução de um corpo sólido sobre um ponto fixo lhe rendeu o prêmio Prix Bordin, na França. Também se destacou na pesquisa de equações diferenciais parciais e deu nome ao teorema de de Cauchy-Kovalevskaia.
Na palestra, Tuladhar lembrou frases célebres de Sofia, como: “É impossível ser um matemático sem ser um poeta na alma”. Sofia, que dá nome a uma das crateras da lua, conciliou a pesquisa matemática com a litertura e a miliância em movimentos feministas até a morte, de gripe, aos 41 anos. “É uma inspiração para a causa feminina”, afirmou o professor.