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18/12/2018

Matemáticos protagonistas (ainda) são raríssimos na ficção

Livros analisados formam massa de 500 bilhões de palavras      Foto: Furcifer Pardalis

Quantos livros que você já leu trazem, como protagonista, um matemático ou matemática? Se não consegue lembrar título algum, calma, não se trata de problema de memória. Considerando os anos de 1800 até 2008, o quadro é desanimador. E piora de 1952 para cá, se analisarmos a ficção inglesa. A ironia é que só é possível descobrir isso por causa da contribuição de matemáticos envolvidos na criação do Google Books Ngram Viewer. 

A ferramenta on-line nos permite fazer a análise estatística do conteúdo de milhões de livros encontrados em bibliotecas públicas mundo afora e digitalizados pelo Google para preencher os mecanismos de busca do Google Books. 

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Os mais de 15 milhões de livros já escaneados produzem uma massa incomensurável de informação, dados que podem nos ajudar, por exemplo, a compreender mudanças ocorridas na cultura ao longo do tempo. 

“O que permanece é uma coleção de 5 milhões de livros, 500 bilhões de palavras, uma sequência de caracteres mil vezes maior que o genoma humano – um texto que, quando escrito, se estenderia daqui até a Lua e de volta mais de dez vezes -, um verdadeiro fragmento de nosso genoma cultural”, detalha Erez Lieberman Aiden, em palestra TED dada com Jean-Baptiste Michel, ambos pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. A dupla, com mais dois pesquisadores, criou o protótipo Bookworm, que serviu de inspiração para o Ngram.

É possível pesquisar com apenas uma palavra, como mathematician, frase ou mesmo letras – algo importante, por exemplo, para os filólogos. A busca pode ser feita em diferentes idiomas – infelizmente, o português não está contemplado – ou corpus, como o que contempla livros de ficção em inglês.

Na busca por mathematician, no corpus English Fiction, o que se vê é que o pico do aparecimento da palavra foi no ano de 1840. Mas não se anime: o percentual naquele ano chegou a 0.0010847217%. E, desde 1952, só cai. Segundo Aiden, programas como o Ngram Viewer são  ferramentas que possibilitam o uso do que chama de culturômica. 

“É como se fosse a genômica. Só que a genômica é uma lente para que a biologia veja através da janela de sequencias das bases no genoma humano. Culturômica é parecido. É aplicação da análise da enorme quantidade de informações coletadas para estudo da cultura humana. Ao invés de olharmos através das lentes de um genoma, olhamos através de pedaços digitalizados do registro histórico. O bom da culturômica  é que todos podem participar”, diz o especialista.

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