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20/03/2018

Matemático Chaim Samuel Hönig morre, em SP, aos 92 anos

Um dos matemáticos pioneiros no país, Chaim Samuel Hönig costumava dizer que, na Matemática tanto quanto na poesia, a qualidade e o trabalho não diminuem com a idade. Falecido na tarde desta segunda-feira (19), aos 92 anos, em São Paulo, aposentou-se aos 70 anos como professor da Universidade de São Paulo (USP). Mas por muito tempo ainda manteve o hábito de frequentar diariamente o Instituto de Matemática e Estatística (IME) da instituição.

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Duas vezes diretor do IME (1978-1982; 1986-1990), primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), idealizador e coordenador do 1º Colóquio Brasileiro de Matemática (1957), em Poços de Caldas (MG), Chaim, que será enterrado nesta terça-feira, às 13h30, no Cemitério Israelita do Embu das Artes (São Paulo), foi protagonista na história da Matemática no país, onde chegou menino, ao fugir do Nazismo.

Pesquisador da área de Análise Matemática – Análise Funcional, Equações Íntegro-Diferenciais, Espaços de Sobolev, Integração –, ele nasceu em Berlim em 1º de fevereiro de 1926. Migrou com a família para Porto Alegre, no fim da década de 1930. Não permaneceu muito tempo no Sul. Arrumou as malas e decidiu estudar Matemática na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP, em 1946, onde cursou concomitantemente o Bacharelado em Física e em Matemática.

Chaim coordenou o 1º Colóquio Brasileiro de Matemática, em 1957. Na foto histórica, está na primeira fila, sem óculos e com a pasta nas mãos

Após concluí-los em 1948, tornou-se assistente do catedrático Edison Farah em 1951. No ano seguinte, finalizou o doutorado em Matemática, na USP. Em entrevista em 2008, declarou que, ao escrever a tese “Sobre um método de refinamento de Topologias”, orientada por Farah, considerou as pesquisas de Leopoldo Nachbin (1922-1993), um dos fundadores do IMPA.

No início dos anos 50, Chaim fez pós-doutorado no Institut Henri Poincaré, na França. Depois, foi contratado para a cátedra de Equações Diferenciais na USP, onde obteve o título de livre-docente após defender a tese “Análise de Fourier em Espaços 1 e Teoremas do Tipo Sobolev”. Com a reforma universitária, em 1970, foi transferido para o Departamento de Matemática do recém-criado IME.                     

Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA, onde Chaim integrou o Conselho Técnico-Científico e foi professor visitante, destacou o legado do matemático.

“Chaim foi um pioneiro notável do desenvolvimento da Matemática brasileira, como primeiro presidente da SBM e coordenador do primeiro Colóquio Brasileiro de matemática. Sua eleição como associado honorário da SBM, que teve lugar durante meu mandato como presidente, foi um justo reconhecimento dessa trajetória singular.”

Integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 1955, Chaim foi professor visitante de instituições estrangeiras, como a Faculté des Sciences, em Rennes, na França. Atuou ainda como primeiro editor-chefe do Boletim da SBM e membro deliberativo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O matemático escreveu mais de uma dezena de livros e mais de 50 trabalhos de pesquisa. Foi casado e teve quatro filhos.

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