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21/08/2018

Matemática em casa ajuda as crianças na escola?

Reprodução do blog do IMPA Ciência & Matemática, de O Globo, coordenado por Claudio Landim

Débora Foguel, Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis – UFRJ

Nesse artigo, optei por prestigiar o bom momento que vive a matemática brasileira e escolhi um tema crucial para atrair mais jovens para esta disciplina. Só para ilustrar como a nossa matemática está em evidência, lembro que, recentemente, a equipe de estudantes brasileiros recebeu quatro medalhas de bronze e uma de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática na Romênia. Além disso, o Rio de Janeiro foi sede do congresso mundial de matemática, que, pela primeira vez, foi realizado no hemisfério sul do planeta. Aproveito essa oportunidade, também, para lançar um desafio aos colegas matemáticos, desafio que se encontra no final desse artigo. Quem chegar lá, lerá!

Entre os dias 2-4 de agosto, ocorreu em São Paulo o primeiro Encontro da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE), uma rede com cerca de 120 pesquisadores brasileiros, de diversas áreas do saber e regiões do país, que realizam estudos que visam contribuir para a melhoria da educação do país. Aqui, não tenho espaço para detalhar o que faz a Rede CpE onde atuo como Coordenadora, mas convido os leitores a visitarem o site para conhecerem a nossa Rede. O que interessa agora é que, neste Encontro, recebemos a Dra Susan C. Levine, que proferiu a conferência de abertura. A Dra Susan é professora da Universidade de Chicago do Departamento de Psicologia, onde estuda, há muito tempo, o interesse de crianças e adolescentes pela matemática. Fiquei muito impressionada com a sua apresentação e decidi por escolher um dos trabalhos da Dra Levine como tema do artigo deste mês para prestigiar a matemática. Conto-lhes aqui os achados de seu estudo publicado em 2015 na revista Science (Science 350, 196-198).

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Neste estudo, o grupo da Dra Susan adotou uma estratégia muito interessante para responder à pergunta que está no título desse artigo: Será que desenvolver alguns conceitos da matemática em casa ajuda as crianças no desempenho da matemática na escola?

Já é bem aceito que a leitura de livrinhos pelos pais influencia positivamente no desenvolvimento escolar das crianças. Entretanto, ainda não havia sido determinado se os pais (usarei o termo “pais” mas quero me referir àqueles que cuidam das crianças), ao interagirem com seus filhos em atividades relacionadas à matemática, poderiam influenciar no aprendizado dessa disciplina na escola. De forma geral, a maior parte de nós acredita que o aprendizado da matemática é restrito ao ambiente escolar e a família pode contribuir pouco para isso. Errado! Foi essa a conclusão desse estudo conduzido pela Dra Susan. Vamos aos dados!

A equipe da Dra Susan acompanhou durante um ano o rendimento em matemática de 587 crianças (de escolas de 22 áreas distintas de Chicago) que estavam na alfabetização. Para isso, foi utilizado um aplicativo gratuito que trabalha de forma lúdica e simples alguns conceitos da matemática em crianças dessa idade. Infelizmente, não me foi possível acessar o aplicativo, mas, pelo que ouvi na palestra dela em São Paulo e pelo que está descrito no artigo, o aplicativo apresenta atividades com números (contagem numérica), formas geométricas, noções de espaço (a frente de, embaixo de, acima de, ao lado de etc), noções de fração, probabilidade e etc. O aplicativo foi desenhado, inclusive, para ser usado por pais que dominam pouco a matemática.

As famílias foram divididas em dois grupos: Grupo I – composto por 420 famílias que usaram o aplicativo matemático e Grupo II – composto por 167 famílias que usaram um iPad para ler historinhas para seus filhos. Esse foi chamado de Grupo controle, pois os pesquisadores queriam descartar qualquer possibilidade de que os resultados fossem influenciados pela simples interação dos pais com seus filhos. Essas historinhas não tinham qualquer conteúdo numérico ou espacial para não interferir nos resultados.

Durante um ano as famílias utilizaram ou o aplicativo matemático ou o iPad com atividades de leitura e o conhecimento matemático das crianças dos dois Grupos foi monitorado por pesquisadores treinados para tal. Certamente, o conhecimento de matemática de cada uma das crianças dos dois grupos foi avaliado antes do início da pesquisa para servir como referência ou ponto de partida.

Para ler o texto na íntegra acesse o site do jornal 

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