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23/03/2017

A origem de Serrapilheira

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Karine Rodrigues

O matemático Jacob Palis, pesquisador emérito do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), nem imaginava que, ao convidar o então professor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, João Moreira Salles, para dar uma palestra em um simpósio da Academia Brasileira de Ciências (ABC), lá nos idos de 2010, estava plantando uma semente que germinou e virou o Instituto Serrapilheira, lançado nesta quarta-feira (22), no IMPA.

Mas foi a partir daquele convite, contou João Moreira Salles para a plateia, que ele despertou para o desequilíbrio imenso entre o que definiu como a capacidade de sedução das Humanidades em oposição às Ciências Exatas. Na época, acabou fazendo uma espécie de “mea culpa” pelo fato de que ele, como documentarista, contribuía para essa disparidade.

No ensaio derivado da participação do evento da Academia Brasileira de Ciências, intitulado “Um documentarista se dirige a cientistas”, e publicado na Folha de São Paulo, João discorreu, por exemplo, sobre a distância entre profissionais das duas áreas, e, após citar um episódio relatado pelo físico e escritor inglês C.P. Snow, escreveu: “Não sei se alguém já voltou a conversar com os matemáticos. Torço para que sim, apesar das evidências em contrário. Seria um desperdício, pois a matemática, para além dos seus usos, é guiada por um componente estético, por um conceito de beleza e de elegância que a maioria das pessoas desconhece. O que move os grandes matemáticos e os grandes artistas, desconfio, é um sentimento muito semelhante de síntese e ordem. Os dois grupos teriam muito a dizer um ao outro, mas, até onde sei, quase não se falam”.

O depoimento do documentarista repercutiu e, a partir dali, relembrou João, ele começou a pensar em criar o Serrapilheira, primeira instituição privada de fomento para a ciência brasileira. A ideia, contou ele, ganhou mais impulso ao ler uma entrevista do próprio Jacob, na qual dizia ter um neto matemático – que o documentarista descobriu depois se tratar de um “neto acadêmico”, Artur Avila, pesquisador extraordinário do IMPA que, em 2014, seria o primeiro brasileiro a ganhar a Medalha Fields, considerado o Nobel da Matemática. Editor da revista Piauí, João queria escrever um perfil de Artur e ficou espantado ao descobrir que os jornalistas da publicação desconheciam o IMPA.

“Eu disse para os jornalistas que Artur seria uma espécie de degrau para se chegar ao IMPA, que eu sabia que era uma instituição de excelência, mas ninguém da redação da Piauí sabia. O IMPA estava a 1,5km, 2 km da redação e foi um choque entender que uma instituição da importância do IMPA, com serviços prestados ao país, era desconhecida do que havia de melhor do jornalismo brasileiro. Essas coisas foram se juntando e, em 2014, eu deflagrei o processo (de criação do Instituto Serrapilheira), que é o percurso que vocês viram aqui. Essa é uma boa razão para esse evento estar acontecendo aqui no IMPA, porque a ideia, de certa maneira, surgiu estimulada por um pedido do Jacob.”

Na plateia, Jacob Palis emocionou-se: “Muito obrigado pela sua generosidade, mas entusiasmo nunca faltou”. Ao que João respondeu: “Você me ajudou muito”.

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