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27/07/2018

Alunos que estudam de forma ativa têm melhor desempenho

 

Reprodução do blog do IMPA Ciência & Matemática, publicado em O Globo, e coordenado por Claudio Landim

Débora Foguel, Professora Titular do Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Recentemente, me deparei com um estudo muito interessante publicado em 2014 na prestigiosa revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), cujo título, em tradução livre, seria “Aprendizado ativo aumenta o desempenho em ciência, engenharia e matemática”. Essas três áreas, acrescidas da área tecnológica, resultam na acronímia em inglês STEM (science, technology, engineering and math). Não só nos Estados Unidos, país dos autores deste estudo, mas também no Brasil, há uma menor procura por parte dos estudantes pelas carreiras relacionadas a essas disciplinas, e vários estudos, e mesmo políticas educacionais, têm procurado incentivar mais jovens a perseguirem essas carreiras. Somado a baixa procura por esses curso, ainda nos deparamos com a enorme evasão desses estudantes, quando já nos bancos universitários, o que agrava a carência de profissionais nessas áreas. E este artigo visa contribuir nesse sentido, uma vez que compara o desempenho e evasão de estudantes universitários americanos de cursos relacionados a essas disciplinas que receberam ensino ativo (ensino movido por perguntas) ou ensino tradicional ou passivo (ensino baseado em respostas prontas).  Para tal, os autores analisaram 225 artigos da literatura, publicados ou não (aqui incluindo teses e dissertações), onde se comparou as notas dos estudantes submetidos a um ou outro tipo de ensino, além das taxas de repetência (taxas de fracasso). Vale ressaltar que os autores consideraram como ensino ativo aquele onde há, pelo menos em parte das aulas, espaço reservado para atividades práticas, tutorias, resolução de problemas aplicados, ou seja, atividades onde o estudante busca respostas por si só. Ou seja, esse artigo do PNAS analisa o resultado de mais de duas centenas de estudos sobre essa temática e apresenta conclusões muito robustas que eu enumero a seguir:

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1. Alunos que estudaram de forma ativa tiveram desempenho melhor que os estudantes do ensino tradicional (diferença de 0.47 no desvio padrão). Só para dar uma ideia, um aumento de 0.47 no desvio padrão das notas significa um aumento de 0.3 na média final do estudante. Esse aumento parece pequeno, mas os autores discutem que essa é a diferença na média entre os estudantes que ficam e os que abandonam a graduação (os que abandonam tem média cerca de 0.4-0.5 menor). Ou seja, embora pequena, essa diferença poderia determinar o destino de um estudante: evadir ou permanecer na universidade, devendo, portanto ser considerada como significativa.
     
2. A taxa de fracasso dos estudantes do ensino ativo foi de 21,8% e a dos estudantes do ensino tradicional foi de 33,8%. Alunos que receberam ensino tradicional, em média, teriam 1.5 vez mais probabilidade de fracassar. Fazendo-se uma analogia com um teste clínico na área de saúde, onde um novo medicamento estivesse sendo testado, essa probabilidade de 1.5 de fracasso faria com que o teste clínico fosse abandonado e os pacientes que estivessem recebendo placebo teriam de passar a receber o medicamento em teste, visto que seu benefício é notório! Ou seja, esse resultado já levaria a que todos estudantes passassem a receber ensino ativo dada a sua maior eficiência! 

3. Esses resultados que apontam ser o ensino ativo mais efetivo foram observados para estudantes de vários cursos STEM, como biologia, química, ciência da computação, geologia, matemática, física e psicologia, ou seja, o ensino ativo foi sempre mais efetivo, independente da disciplina!

Para ler o texto na íntegra acesse o site do jornal 

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