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24/07/2017

'Colaboração é mais importante do que competição'

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Nicolay Nicolov. Você ainda não sabe, mas provavelmente vai ter inveja dele tão logo termine de ler este primeiro parágrafo. No segundo dia de prova da IMO, em 1995, o búlgaro entregou a prova muito antes dos demais competidores, pois queria dormir. E, pasmem, resolveu todos os problemas, atingindo a nota perfeita: 42 pontos. Para quem duvida, Artur Avila, pesquisador extraordinário do IMPA e único brasileiro a receber a Medalha Fields, atesta a veracidade, pois foi testemunha do fato.

A história foi contada pelo próprio Artur para uma plateia formada por boa parte dos 623 estudantes da IMO, reunidos na tarde desta sexta-feira (21) no auditório de um hotel na Barra da Tijuca. Além de falar de sua trajetória, o brasileiro comentou o trabalho de medalhistas da IMO 1995 que, assim como ele, seguiram um bem-sucedido caminho na Matemática.

Além de Nicolay, que se tornou professor da University College Oxford, Artur citou, entre outros, o britânico Ben Green; o francês Emmanuel Breuillard; o americano Jacob Lurie e o romeno Ciprian Manoelescu, que participou de três edições da olimpíada, e, incrivelmente, conquistou três notas perfeitas.

Artur falou ainda da matemática iraniana Maryam Mirzakhani, que morreu na sexta-feira (14). Os dois se conheceram no momento da premiação da IMO, naquele mesmo 1995. Ambos foram medalha de ouro. “Ela estava usando uma roupa tradicional do Irã, com a cabeça coberta. Conversamos um pouco”, disse, lembrando que, anos depois, em uma conversa com Curtis McMullen – Medalha Fields em 1998 – soube dela novamente.

“Ele me falou sobre uma estudante maravilhosa, que solucionara um problema importante. Era Maryam”, disse Artur, recordando que encontrou por diversas vezes com a iraniana durante conferências de matemáticos. Eles se viram pela última vez em 2014, em Seul, quando ambos ganharam a Medalha Fields. “Ela estava feliz com a filha”, recorda, destacando ainda a modéstia e a perseverança de Maryam, que passava anos se dedicando à solução de um problema.

Embora não tenha seguido o caminho da matemática olímpica, Artur contou que, de vez em quando, gosta de brincar um pouco, resolvendo problemas da IMO. Sobre a prova aplicada esta semana, disse que ela foi muito difícil. “Alguns problemas eu consegui resolver; outros eu achei muito estranhos”, declarou, revelando que nunca costuma sequer olhar os problemas de geometria.

E diante das cadeiras tomadas por estudantes das mais diversas nacionalidades, com idades variadas, garotos – e ainda – garotas, o brasileiro destacou o valor do respeito e da diversidade: “Há várias maneiras de se fazer matemática. Ninguém precisa imolar ninguém por causa do modo como o outro faz as coisas”, destacou, ressaltando que, na Matemática, a “colaboração é mais importante do que a competição.”

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