Criptografia e realidade virtual marcam 1º dia de FestMat
Qual a relação dos números primos com a criptografia? Carolina Araujo, pesquisadora do IMPA marcou presença no palco principal do Festival Nacional da Matemática e explicou para o público o que está por trás da segurança em simples trocas de mensagens por aplicativo e acesso a contas bancárias, por exemplo. O processo, atualmente, envolve o uso dos números primos, mas nem sempre foi assim.
Com uma linguagem divertida e didática, Carolina explicou que preocupação com a decodificação de mensagens é uma realidade desde a época da Roma Antiga.
“A cifra de Júlio César era usada para transmitir segredos de guerra. Nesse período, cada letra da mensagem original era trocada pela letra que se situa três posições à frente, assim o texto ficava inteligível e só quem tivesse a receita saberia decifrar.”
É claro que com o passar do tempo e o uso das tecnologias, os métodos criptográficos precisaram ser renovados.
“O segredo para funcionar é começar com o número primo. Nem todos dão a mesma segurança. Precisamos saber escolher bem, mas temos teoria extensa sendo desenvolvida há vários séculos e sabemos que os primos de [Sophie] Germain são bons para criptografia. Um primo multiplicado por outro, resultando em outro primo – é um processo seguro”, explicou Carolina.
Na palestra, a pesquisadora do IMPA contou ainda a história de Sophie Germain, matemática francesa que assumiu uma personalidade masculina para poder estudar matemática. Ela trabalhou com Teoria dos Números e gerou contribuições importantes para a área até os dias de hoje.
Tumba egípcia virtual
Dando continuidade à programação do Festival, o Visgraf, Laboratório de Computação Gráfica do IMPA, apresentou o processo de criação, desenvolvimento e produção do vídeo de Realidade Virtual Neferhotep 360. O projeto é criado em parceria com o Laboratório de Processamento de Imagem Digital (LAPID) do Museu Nacional, BioDesign (PUC-Rio) e Instituto Nacional de Tecnologia (INT).
Pedro Von Seehausen, arqueólogo e egiptólogo do Museu Nacional, explicou como foi o trabalho no Egito. “No processo de escavações, todos os fragmentos são peneirados e separados, para não perder nada. É como se estivéssemos fazendo a inspeção de uma cena do crime, é um trabalho minucioso onde cada detalhe pode trazer um novo dado, uma informação.”
A tumba de Neferhotep fica na antiga Tebas, onde atualmente fica a cidade de Luxor. Ela está localizada na rota posicional de uma famosa festa que ocorria na época, o Festival do Vale, considerado o maior evento da necrópole tebana.
“A tumba foi saqueada diversas vezes, e isso afetou o estudo arqueológico. Além disso, nem sempre é possível ler e interpretar o que foi apagado. O Museu Nacional entrou nas escavações em 2014, e recentemente a coordenação do projeto saiu da Universidade de Buenos Aires e veio para nós”, afirmou Seehausen.
Para preservar a documentação dos estudos arqueológicos e promover a divulgação científica de forma interativa, surgiu a ideia de criar a experiência que transporta os visitantes para o Egito Antigo. A visita virtual à tumba de Neferhotep foi criada com as gravações feitas em 360º na tumba.
“Graças ao trabalho do IMPA, eles conseguiram produzir uma narrativa a partir dos processos de gravação e digitalização”, destacou.
Bernardo Alevato, designer do Visgraf, explicou como as gravações se transformaram em uma experiência imersiva criada para educar e divertir. “Trabalhamos em conjunto. Eu não entendo sobre egiptologia, mas entendo sobre mídia. Em diálogo, trabalhamos com o Neferhotep para criar um vídeo 360°em formato documental. Buscamos mostrar como o trabalho de escavação funciona”, afirmou.
A proposta do vídeo é criar uma experiência imersiva. É um projeto participativo com uma abordagem interdisciplinar, usando matemática, egiptologia, história, paleontologia e novas mídias visuais. O Espaço de Realidade Expandida Space-XR está aberto ao público no #FestMat até este sábado (7).
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