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25/06/2019

Nas cartas do baralho, o empurrão para a Probabilidade

A primeira vez que o carioca Roberto Imbuzeiro Oliveira ouviu alguém falar sobre algo que se tornaria sua escolha profissional foi em uma aula na escola, ainda no Ensino Fundamental. “A professora disse que existia doutorado em Matemática. Contou que era preciso solucionar um problema que ninguém tinha conseguido resolver. Fiquei impressionado”, recorda o pesquisador, no IMPA desde 2006, onde é titular da área de probabilidade.

No caminho entre o espanto com a revelação da professora e a entrada no IMPA, Imbuzeiro cruzou com a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), competição realizada desde 1979 pela Sociedade Brasileira de Matemática e pelo IMPA. Diz ter sido, “disparado, a prova mais difícil” que já fez, considerando o que sabia na época. Ganhou uma menção honrosa, conquista que colocou o futuro, literalmente, em suas mãos: como prêmio, ganhou um livro sobre análise combinatória e probabilidade.

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Embora tenha chegado a frequentar aulas de Matemática aos sábados, ao decidir o curso de graduação optou por Engenharia de Computação. Com uma ótima colocação no vestibular, ganhou bolsa na PUC-Rio e passou a integrar a turma especial, na qual as aulas de Matemática eram “caprichadas”. “Foi quando a carreira em Matemática apareceu como uma possibilidade para mim”, relembra.

Durante um trabalho de faculdade acabou chegando ao IMPA, para pesquisar sobre comprimento de curva e área de superfície. Acostumado com o burburinho da PUC-Rio, inicialmente estranhou a quietude do lugar, mas gostou tanto que decidiu tentar uma vaga no mestrado. Em sua carta de intenções, cravou sistemas dinâmicos, área de pesquisa de um de seus professores prediletos na graduação, Lorenzo Díaz. No IMPA, foi orientado por Marcelo Viana, hoje diretor-geral. 

Mágico no Colóquio Brasileiro

A escolha pela Probabilidade surgiu a partir das conversas com colegas de pós-graduação e as idas à biblioteca do IMPA, onde achou um livro do futuro orientador de doutorado sobre métodos probabilísticos. O empurrão que faltava foi dado por Persi Diaconis, professor da Universidade Stanford (EUA), em palestra sobre a Matemática de embaralhar as cartas, dada no Colóquio Brasileiro de Matemática (CBM) de 1999, no IMPA. 

“Ele é um cara bem singular. Largou a escola para se tornar mágico e, depois, voltou à universidade e se tornou um destacado pesquisador. Adorei a palestra. No fim, ele disse: ‘Tem áreas da Matemática que você passa cinco anos só para entender as definições. Esse campo aqui, não. Envolve álgebra, combinatória, probabilidade e quem quiser tem coisa para estudar, para descobrir agora’. Fui procurar sobre o assunto e fiquei encantado”, diz Imbuzeiro, citando Alexandre Belloni (Duke University), Andrea Montanari (Stanford University) e Gábor Lugosi (Barcelona Graduate School of Economics) como matemáticos contemporâneos inspiradores.

Imbuzeiro concluiu o doutorado em Matemática em 2004 no Courant Institute of Mathematical Sciences, da New York University. Escolheu o americano Joel Spencer como orientador ao ler, no IMPA, o livro “The Probabilistic Method”, de autoria dele e do israelense Noga Alon, da Princeton University. “Foi uma sorte que dei escolher o orientador pelo método errado e ter dado tudo tão certo”, diz ele, que emendou o doutorado com o pós-doc no IBM T. J. Watson Center, também nos Estados Unidos, orientado por Barbara Terhal.

De volta ao Brasil, imperativo por ter recebido bolsa do governo para pós-graduação no exterior, Imbuzeiro viu no IMPA o lugar ideal para se estabelecer na carreira de pesquisador. “O reconhecimento internacional, o intercâmbio de pessoas de instituições daqui e lá de fora e as condições de trabalho chamavam a atenção. Além disso, fui aluno de mestrado e, durante o doutorado e o pós-doc, vim várias vezes ao IMPA. Achava que podia ser feliz aqui.”

Com três filhos, de 7, 9 e 12 anos, casado com uma pesquisadora da IBM no Rio, Imbuzeiro tinha razão. Hoje orienta cinco estudantes de doutorado, três de mestrado e realiza pesquisas em probabilidade e suas relações com problemas em estatística, Matemática discreta e informação quântica, entre outras áreas. Já foi gerente das divisões de Ensino e de Planejamento e Projetos do IMPA.

Como exemplo, cita estudo mais recente, em parceria com Yuval Peres e Anna Ben-Hamou. Os três se debruçaram sobre “as grandes redes sociais que dominam as nossas vidas”, mais especificamente o Facebook, tão grande que é impossível existir na memória de um único computador. Traduzido em “uma pergunta ingênua”, o problema matemático em questão seria: O que você consegue estudar sobre uma rede muito grande só olhando para um pedaço dela, por meio de um passeio aleatório?

“O estudo que fizemos foi para ver, sob que condições, a partir de um passeio realmente curto no Facebook, você pode ter algum tipo de informações global sobre a rede. Há muitas outras que podem ser estudadas também. Como quase tudo em Matemática, você descobre uma coisa e, imediatamente, aparecem outras como prosseguimento natural do que você descobriu.”

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