Geofísica defende tese de doutorado nesta quinta-feira (5)
Em uma jornada marcada por colaborações e parcerias, Ana Carolina Mançur defende, nesta quinta-feira (5), a tese de doutorado “Triplas de Manin para estruturas duplas”, que teve como orientador o pesquisador Henrique Bursztyn. A apresentação está marcada para as 10h, na sala 232 do IMPA e será transmitida pelo canal do instituto no Youtube.
No projeto, a ideia foi trabalhar com triplas de Manin e bialgebróides de Lie, estabelecendo a correspondência entre esses objetos em contextos duplos. Os resultados apresentados no trabalho esclarecem a correspondência infinitesimal-global entre LA-Courant algebroids e CA-grupóides.
“Eu trabalho com geometria de Poisson e, na minha área, tem um resultado bem importante que é a caracterização de Lie bialgebras/bialgebroids via Manin triples. Basicamente, o trabalho que fiz foi generalizar esse resultado para estruturas duplas, que é quando você tem, por exemplo, uma estrutura de grupóide sobre uma estrutura de algebróide”, explicou Carolina. A tese apresenta a solução de dois problemas principais, provando a correspondência entre Manin triples e Lie bialgebroids em contextos duplos nas suas versões global e infinitesimal, além de algumas aplicações de ambos resultados.
Natural de Alagoinhas (BA), Ana Carolina tem 29 anos, e é graduada em geofísica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Segundo ela, os desafios matemáticos que o curso impunha foram determinantes para ela se enveredar para a nova área.
“No curso de geofísica, trabalhamos aplicando muitas teorias avançadas da matemática, mas nós não tínhamos o tempo hábil para aprender em profundidade qual era a matemática que estava acontecendo ali. Então, a gente aplicava sem entender muito bem o que estava rolando por trás. Eu percebi que usávamos muitas ferramentas matemáticas, mas não entender bem o que estávamos usando me gerava um incômodo. E foi aí que comecei a pensar em mudar para matemática”, contou Carolina.
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A decisão em migrar da geofísica para a matemática se concretizou após o Curso de Verão do IMPA, em 2016. Porém, a pouca intimidade com a matemática foi um desafio durante o primeiro contato da estudante com a disciplina de Álgebra Linear.
“Foi bem desafiador, porque eu tinha zero noção de matemática. O jeito que as pessoas pensam matemática é muito diferente do que as outras pessoas de exatas lidam com a parte ferramental da matéria. E pensar matemática, pensar em demonstrações matemáticas, pensar em lógica matemática, era algo que, naquele momento, não era nada natural para mim. Foi o primeiro contato que eu tive com demonstrações mais formais e a ser exigida para reproduzir essas demonstrações mais formais. Foi bem desafiador”, comentou a doutoranda.
Apesar das dificuldades iniciais, o entusiasmo pela matemática falou mais alto. Determinada a seguir na área, Carolina iniciou o mestrado na UFBA. Dois anos mais tarde, após participar de mais uma edição do Curso de Verão, Ana foi aprovada para o doutorado no instituto.
A estudante lembra com carinho da acolhida do orientador Henrique Bursztyn e do suporte diante das inseguranças, como a graduação em outra área e a não participação em olimpíadas científicas. A parceria com o orientador foi uma das colaborações que marcaram a trajetória da jovem, que garante ter chegado à conclusão do doutorado contando com o apoio de familiares, amigos e professores.
Caminhada de 3 Km até a escola
Durante parte considerável da educação básica, Carolina foi moradora do povoado Riacho da Guia, na zona rural de Alagoinhas, e, por isso, o acesso à educação foi marcado pelo esforço pessoal e familiar. Um dos principais desafios enfrentados foi a distância da escola.
A jornada começava cedo com uma caminhada diária de 3 km pelas trilhas improvisadas até a estrada, onde Carolina aguardava pela van para, então, chegar à escola. Apesar dos desafios, a jovem rejeita o discurso de superação. Ao contrário disso, ela prefere ressaltar os privilégios e oportunidades que teve apesar de todas as dificuldades.
“Era difícil, só que ao mesmo tempo eu olhava para as pessoas ao meu redor, da minha idade, que moravam na zona rural também, e dava para enxergar claramente o privilégio que eu tinha de ter a oportunidade de fazer isso. Então, gosto de falar que a minha história com a escola é a história de uma pessoa que, mesmo tendo essas dificuldades, teve acesso a alguns privilégios que me permitiram chegar nesse lugar. Sempre gosto de ressaltar isso. Não venci as dificuldades sozinha, tive acesso a muitos privilégios que me fizeram passar por algumas barreiras que outras pessoas não conseguiram.”
A graduação também é encarada como uma oportunidade de destaque na rotina na zona rural. Com a ajuda do pai, José Raimundo Mançur, um dos seus maiores incentivadores, Carolina conseguiu seguir o sonho de cursar a faculdade e se mudou definitivamente para Salvador, capital do estado. Com o falecimento do pai, a estudante começou a se dividir entre a graduação, monitorias, aulas de reforço e iniciação científica para suprir as necessidades financeiras.
Agora, Ana Carolina pensa em seguir na carreira acadêmica através da realização de um pós-doc, investindo no sonho de se tornar professora universitária. “Quero ter a oportunidade de colaborar mais com as pessoas, pois acredito que andamos muito mais rápido e muito mais longe quando estamos em colaboração com os outros.”
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