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09/10/2024

Da física para matemática, Ana defende tese de doutorado

Com uma trajetória marcada pelo ensino público no Rio de Janeiro, Ana Victória Martins Quedo, 28 anos, faz questão de destacar a influência de diferentes professores na sua formação acadêmica. Foi durante o Ensino Básico, no Colégio Pedro II, que a aluna de doutorado do IMPA se encantou pela área de exatas. “Sempre gostei muito de matemática e os professores do Pedro II têm uma boa formação. Nas aulas, falam muito de demonstrações. Sinto que alguns colegas, por exemplo, só foram entender outros aspectos da matemática depois de ingressarem na faculdade.”

Medalhista de ouro, prata e bronze na OBMEP, Ana considera ainda que as aulas do PIC (Programa de Iniciação Científica Jr) contribuíram para o aumento de repertório na área. Apesar do grande interesse pela matemática, a escolha inicial da estudante foi pela graduação em física na UFRJ. Três anos depois, pediu transferência para matemática. “Queria entender bem os conceitos matemáticos e como aquilo modelava acontecimentos físicos. Nesse processo de querer entender muito mais a matemática, decidi mudar”, explicou. 

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Posteriormente, Ana concluiu o mestrado na UFRJ e, agora, defende a tese de doutorado “Variedades projetivas com divisor canônico numericamente trivial e seus automorfismos”, sob orientação da pesquisadora Carolina Araujo. A apresentação da tese acontece nesta quinta-feira (10) às 11 na sala 232 do IMPA. 

O trabalho aborda três problemas da área. O primeiro trata de automorfismos de superfícies K3 do problema de Gizatullin, para qual foi encontrada uma solução parcial, no caso em que a superfície tem número de Picard 2. Para o segundo problema, a estudante  apresentou exemplos geométricos de automorfismos cuja existência já era conhecida devido aos resultados de Bossière, Camere e Sarti e Bossière, Cattaneo, Nieper-Wisskirchen e Sarti. Por fim, no terceiro e último problema, ela apresenta a resolução da conjectura do cone de Kawamata-Morrison para quocientes de variedades abelianas. A pesquisa rendeu a possibilidade de um doutorado sanduíche realizado na  Université de Poitiers (França).

“Dois dos três problemas trabalhei com outras duas estudantes, Daniela Paiva, do IMPA, e Martina Monti, da Itália. Foram parcerias muito importantes. O trabalho em conjunto dá uma outra visão sobre os problemas, e as trocas mostram que a matemática pode ser muito coletiva. Você aprende com o outro, mas aprende sobretudo a encarar o problema de outros ângulos”, explicou. 

Influência feminina

Com uma trajetória marcada por parcerias femininas, Ana destacou ainda a importância de trabalhar com Carolina Araujo .“Já me senti peixe fora d’água, achava que não cabia em certos lugares. Na faculdade, fui a única menina várias vezes, mas no IMPA encontrei pessoas muito legais, e a Carolina sempre foi uma referência. Ela foi um exemplo de como simplesmente ‘ser’, sem abrir mão de nada. É uma pessoa muito acolhedora, que tem muita força, mas sem perder a gentileza.”

Em casa, a parceria chegou mais cedo. A mãe Agostinha Martins , além de economista, foi a maior incentivadora. “Ela não entende exatamente o que faço, mas sempre me apoiou muito. Se lidei com vários desafios nesse percurso é porque ela estava do meu lado me incentivando. E foi assim desde criança.”

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