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13/03/2018

Para 9 em cada 10 meninas, engenharia é ‘coisa de menino’

Foto: Thinstock

Reprodução da revista Crescer

Em São Paulo, 9 em cada 10 meninas (entre 6 e 8 anos) associam a engenharia com as afinidades e destrezas masculinas. A descoberta faz parte de uma pesquisa recente realizada pela FLACSO Argentina (Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais) e a ONG argentina Chicos.net (que promove o uso da tecnologia responsável entre crianças e jovens), com patrocínio da Disney América Latina. O mesmo estudo foi aplicado em Buenos Aires e na Cidade do México com o intuito de investigar como pais, mães e professores influenciam no vínculo das meninas com as disciplinas STEM, sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática.

O estudo foi realizado entre abril e outubro de 2017 com 360 meninos e meninas entre 6 e 10 anos, 480 mães e pais e 780 professores, todos de setores socioeconômicos médio, médio baixo e baixo. No Brasil, o resultado foi apresentado à imprensa na sexta-feira (9), com a presença de Gloria Bonder (FLACSO), Marcela Czarny (Chicos.net) e Belén Ubaneja (Disney AL).

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A maioria dos adultos entrevistados concorda que as disciplinas STEM serão as profissões do futuro. Apesar disso, 1 em cada 3 pais considera que a baixa participação das mulheres nas STEM obedece ao gosto pessoal das meninas (33%) e que elas recebem poucos estímulos em casa e no ensino fundamental (32%) para se interessar por essas matérias. Por outro lado, oito em cada dez pais/mães garantem que diriam à sua filha que seguissem por esse caminho, caso essa fosse sua vocação.

Mais evidências interessantes: tanto meninos quanto meninas (60%) gostam de fazer experimentos em casa. E a maioria dessas crianças acredita que STEM é para ambos os sexos. Aliás, no Brasil, 40% das meninas gostam de matemática, contra 23% dos meninos – um dado que chama a atenção das pesquisadoras, por ser exclusivamente daqui. Então, por que engenharia ainda é percebida como atividade masculina? A pesquisa sugere que há algo após os 10 anos, coincidentemente o momento em que elas começam a desenvolver a sexualidade, que faz com que se afastem das STEM. Como consequência, essas profissões se tornam espaços masculinos, estereotipados.

Como incentivar a sua filha na área das ciências

A pesquisa sugere algumas propostas para reverter essa escolha definida por gênero e ajudar as meninas a desenvolver seu potencial. Entre elas, está incluir visitas a museus de ciências e planetários; dar visibilidade aos modelos femininos em STEM e buscar iniciativas que aproximem as crianças da programação. Além disso, vale também estimular atividades de meninas e meninos em conjunto, além de evitar a associação de brincadeiras, roupas e brinquedos com apenas um dos gêneros. Por fim, é preciso assegurar que meninas tenham acesso a dispositivos eletrônicos da casa tanto quanto os meninos e jamais estigmatizar as disciplinas STEM como matérias “difíceis” ou “somente para inteligentes”.

Belén, diretora de Brand Management da Disney América-Latina, declarou que, depois de analisados os resultados da pesquisa, toda a publicidade da marca agora obrigatoriamente mostrará meninas e meninos, e nunca apenas um dos gêneros. Um bom começo, não?

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