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18/05/2018

Na Escola Britânica, meninas dominam o Clube de Matemática

Marcelo Viana com fundadoras do clube e a professora Elaine West

Quando a professora Elaine West, da Escola Britânica – unidade Barra, anunciou no meio da aula que os interessados na criação de um Clube de Matemática deveriam procurá-la na hora do recreio, não tinha ideia de que o aviso seria atendido tão prontamente. Nem que encontraria um grupo formado inteiramente por meninas na porta de sua sala, aguardando ansiosamente para aderir à novidade.

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As dez fundadoras do Johnson-Clarke Mathematics Club, por sua vez, nem imaginavam que, pouco tempo após decidirem dedicar meia hora do recreio à resolução de questões da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), teriam como atividade ciceronear, pelos corredores da escola, Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA, instituição responsável pela criação e organização da competição.

Além da prova anual, realizada desde 2005, a OBMEP é composta por outras atividades, como o projeto de formação de clubes, elaborado para estimular o estudo da Matemática. Foi assim que, após participar da OBMEP, aberta no ano passado também para a rede privada de ensino, a Escola Britânica da Barra decidiu criar seu próprio clube, por iniciativa de Elaine e do diretor de Matemática da instituição, Michael Francis.

As estudantes contaram que, em casa, não falta incentivo para a Matemática

Quatro das fundadoras do clube, Gabriela Pires, Yerin Cho, Stephanie Widermann e Maria Eduarda Scalestky – todas entre 11 e 14 anos e estudantes de turmas equivalentes ao 6º, 7º e 8º ano do Ensino Fundamental -, apresentaram as principais dependências da Escola Britânica a Viana, que, a convite do diretor de Matemática, visitou a escola bilíngue, onde estudam cerca de 2 mil alunos. Além da Barra, na Zona Oeste, o grupo, fundado no Rio em 1924, tem duas unidades na Zona Sul (Botafogo e Urca).

Após almoçar no refeitório, Viana e as estudantes conversaram sobre a paixão em comum: a Matemática. Como pesquisas já revelaram que a falta de estímulo é um das causas por trás da significativa diferença de gênero na área, o diretor-geral do IMPA quis saber qual a experiência delas. Pelos relatos, as meninas foram incentivadas a se interessar pelo assunto. Filha de engenheiros, Gabriela contou que o tema surgiu quase que naturalmente em casa. Isso também ocorreu com estudantes cujos pais seguiram profissões desvinculadas à Matemática, como Maria Eduarda, filha de advogados.

Na apresentação do clube, as alunas destacaram a OBMEP e o PIC

Viana conheceu dois estudantes da Britânica que, por terem sido medalhistas em 2017, participam do Programa de Iniciação Científica (PIC): Rafael Freire e Pedro Fortes, respectivamente do nível 1 (6º e 7º ano do Ensino Fundamental) e 2 (8º e 9º ano do Ensino Fundamental), conquistaram bronze.

A seguir, para cerca de 70 alunos e pais, as fundadoras do Johnson-Clarke Mathematics Club contaram como surgiu o clube e apontaram suas inspirações: a americana Katherine Johnson, que, em 2018, completa 100 anos e na Nasa, a agência especial norte-americana, deu fundamentais contribuições à exploração espacial; e Joan Clarke (1917-1996), criptoanalista britânica que ajudou a quebrar códigos de mensagens secretas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Foi então a vez de Viana fazer uma breve apresentação sobre o IMPA, destacando as atividades de produção científica, de formação de novos pesquisadores – por meio dos cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorado – e de difusão da cultura matemática no Brasil. Além da OBMEP, o diretor-geral do IMPA enfatizou as atividades do Biênio da Matemática, como a Olimpíada Internacional de Matemática (IMO), ocorrida no ano passado no Rio, e o ICM (Congresso Internacional de Matemáticos), a ser realizado de 1º a 9 de agosto no Riocentro.

Diretor de Matemática da escola, Michael Francis apresenta Marcelo Viana

Segundo ele, são muito necessárias as ações para ampliar a visibilidade da Matemática e mostrar como ela é fundamental aos progressos econômico e social de qualquer país. Como prova disso, citou resultado de pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela avaliação trienal de estudantes na faixa dos 15 anos em 70 países, o PISA. Diante da pergunta sobre o grau de exposição à Matemática Pura e Aplicada, a resposta dos estudantes brasileiros deixou o país entre os piores resultados. 

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