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16/02/2018

A matemática pode tornar eleições mais justas

Anos atrás, coorganizei uma conferência em Chicago para matemáticos de todo o mundo. Entre eles, um estudante iraniano do Impa cujo pedido de visto para os Estados Unidos foi sumariamente negado, apesar de ter toda a documentação, inclusive uma carta abonadora da direção do Instituto de Matemática Pura e Aplicada.

Chateado, informei a minha colega em Chicago sobre o ocorrido e então aconteceu algo que eu não previ: ela enviou um e-mail ao deputado do seu distrito, que contatou o consulado no Rio de Janeiro. Pouco depois, o estudante recebeu um telefonema pedindo para voltar ao local e, em menos de 48h, a questão do visto estava resolvida.

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O episódio me tornou fã do sistema eleitoral norte-americano, em que o território está dividido em distritos, e cada um elege um deputado. Dessa forma o eleitor sabe quem é o seu representante no parlamento e em quem votar na próxima eleição, ou não, dependendo do trabalho realizado.

 Mas o sistema distrital também tem dificuldades. Para garantir isonomia, a lei exige que todos os distritos contenham praticamente o mesmo número de eleitores. Para isso, os distritos precisam ser redesenhados a cada dez anos, a partir dos dados do censo. O problema é que a tarefa fica a cargo dos estados, onde o partido dominante costuma aproveitar para tirar vantagem. Eis um exemplo simples de como isso pode ser feito.

Suponha que um dado estado tenha três deputados, para 30 mil eleitores. Com base nas eleições anteriores, é sabido que 16.500 são republicanos e 13.500 são democratas, e também como uns e outros se distribuem no estado. Os democratas são mais de um terço, seria justo que tivessem pelo menos um deputado. Mas o partido majoritário desenha os distritos de tal modo que cada um deles contenha 5.500 republicanos e 4.500 democratas. Dessa forma, todos os deputados são republicanos!

Essa esperteza é antiga: já em 1812 o governador Elbridge  Gerry, de Massachusetts, sancionou um mapa eleitoral manipulado, para beneficiar seu partido. Jornais da oposição apontaram que um dos distritos era tão distorcido, para aproveitar a distribuição geográfica dos eleitores, que tinha a forma de uma salamandra, e inventaram a palavra gerrymandering para descrever a prática fraudulenta.

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