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02/04/2019

Tese de Catalina Freijo investiga expoentes de Lyapunov

Argentina de Mar Del Plata, Catalina Freijo cresceu entre brincadeiras com argila, tintas e outras formas de expressão artística. Acreditava que o futuro já estava ali. Mas como a Matemática também foi um estímulo em casa, não é de se estranhar que esteja prestes a concluir um doutorado na área. A defesa de tese será nesta quarta-feira (3), às 17 horas, na sala 236 do IMPA.

O retorno à infância de Catalina, hoje com 27 anos, pode ajudar na compreensão desse trajeto que ela fez entre áreas aparentemente muito distantes. Na época, os pais de Catalina, uma arquiteta e um biólogo, transformavam o horário das tarefas escolares em um momento familiar tão prazeroso que ele segue como destaque em suas memórias afetivas. Assim como os dois irmãos, ela também foi motivada a conhecer as diversas áreas do conhecimento. Inclusive, Matemática.

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“Meus pais sentavam conosco para fazer as tarefas de escolares e de um jeito muito carinhoso. Acho que isso se transmite de geração em geração. Quando alguém apresenta algo a você e diz ‘olha, isso aqui, que divertido’, como eles faziam, é diferente. Com a Matemática, há um tabu eterno, né. Há vídeos na internet que mostram como os pais explicam matemática aos filhos e é muito violento, às vezes. Os pais, quando são ruins em Matemática, às vezes falam: ‘eu não gostava, você vai ser como eu.’ Isso pode ser uma trava muito importante. Muitas vezes, a criança só chega até os louros dos pais”, observa.

Com os pais, ela também aprendeu a ver a conexão entre os saberes. Por isso, caminha com desenvoltura entre as diferentes áreas do conhecimento: pesquisa Matemática, pinta, dança… E diante da pergunta sobre a aplicação da tese intitulada “Continuidade dos expoentes de Lyapunov para cociclos lineares com somente uma holonomía”, busca na arte a resposta: “Para que serve a música?”

No trabalho, orientado pelo diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, ela apresenta um resultado parcial para a conjectura dele que afirma que somente uma holonomía uniforme é suficiente para garantir a continuidade dos expoentes de Lyapunov.  

“A gente trabalha continuidade, que é mais ou menos um jeito de explicar a taxa de expansão e contração de um sistema que evoluiu em um tempo. Em geral, tudo isso aqui está baseado em teoria de gases. Então, você têm partículas que se movem. Se essas partículas estão se expandindo em uma direção ou outra, se rodam, o que acontece? Se dois sistemas estão sempre perto, será, por exemplo, que os dois têm a mesma taxa de expansão? Será que vão se manter sempre perto?”, detalha.

Os movimentos caóticos tão comuns em sistemas dinâmicos, área que escolheu para estudar, Catalina vivenciou dentro e fora da academia. Saiu da terra natal, após concluir a graduação na Universidad Nacional de Mar Del Plata – um ambiente “pequeno, familiar”, onde todos se conheciam – para um dos maiores institutos de pesquisa matemática do mundo, com grande nível de prestígio e de competitividade.  “Na época em que ingressei aqui, fui a única mulher da turma”, relata, enfatizando que se sentiu muito sozinha.

Tese dedicada às mulheres matemáticas

A rotina puxada, comum aos cursos de doutorado, contribuiu para novas turbulências. Além da mãe, que veio ao Rio ficar uma temporada, Catalina pode contar com Viana. “Ele me deu muito apoio nesse momento. Diante de qualquer dificuldade que eu tive, ele esteve ali para organizar”, relata, destacando também o papel de Karina Marin, argentina que concluiu o doutorado no IMPA, também sob orientação de Viana, e hoje é pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Após o exame de qualificação, ela se tornou coorientadora de Catalina.

“Falei com o Marcelo sobre ela. Ele topou”, diz, ressaltando a importância da diversidade também na Matemática. “A questão de gênero na área ainda é desalentadora, embora haja mais estímulo hoje em dia para essa inclusão”, avalia Catalina, que dedicou a tese às mulheres matemáticas.

Além da baixa representatividade de gênero na Matemática – “é importante saber que você não está sozinha” -, a pesquisadora argentina considera relevante debater a questão da saúde mental na academia, problema que, segundo ela, atinge a todos, não importa o gênero.

“Muitas vezes, a gente olha de lado para fazer de conta que não tem um elefante rosa no meio da sala, mas isso é importante. Muitos de nós estamos sofrendo e batalhando com isso. E se você é mulher, tem mais probabilidade. Há estudos sobre isso, não sou eu que estou falando.”

Após emendar a graduação com o doutorado, ela deseja tirar férias logo após a defesa de tese. Pretende permanecer no Rio e seguir com a sua busca, que conjuga arte e Matemática.

SERVIÇO:
Defesa de tese de Catalina Freijo
“Continuidade dos expoentes de Lyapunov para cociclos lineares com somente uma holonomía”
Data: 3 de abril | Horário: 17h | Local: sala 236

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