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27/07/2021

Temos que olhar para a diversidade regional, diz Salazar

Crédito: Arquivo Pessoal

Os matemáticos devem olhar mais para diferentes regiões e países e seguir avançando em busca da igualdade de gênero. É o que opina a colombiana María Amelia Salazar, professora do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal Fluminense (UFF) e que fará uma das três palestras de divulgação do 33º Colóquio Brasileiro de Matemática. O encontro, que acontece entre 2 e 6 de agosto, é a reunião científica mais abrangente da comunidade matemática do Brasil. 

Nele, Salazar fará a palestra de divulgação “Grupóides: a busca por simetrias e mais além”, na quinta-feira (05), às 10h. Pela primeira vez, o Colóquio, que acontece a cada dois anos desde 1957, será virtual, com transmissão pelo YouTube. As inscrições ainda estão abertas. Clique aqui para se inscrever.

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Salazar, que se formou na Colômbia e fez pós-doutorado no IMPA, recebeu no ano passado o Prêmio Para Mulheres na Ciência, promovido pela L’Oréal em parceria com a UNESCO no Brasil e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Nesta entrevista, ela fala sobre diversidade na matemática e sobre os desafios de fazer palestras de divulgação científica, voltadas para estudantes de graduação e para públicos mais jovens e não especializados.

IMPA: Recentemente, você recebeu o prêmio Para Mulheres na Ciência. Você acha que foi mais um passo para promover o equilíbrio entre homens e mulheres na matemática?
María Amelia Salazar: Acho que sim. Todas essas iniciativas ajudam a promover um equilíbrio entre homens e mulheres na ciência, principalmente quando essas iniciativas chegam também junto com a conscientização sobre a problemática de gênero que temos. Quando isso acontece, o prêmio já vira algo importante para a comunidade matemática em geral, não só para as mulheres. Temos que trabalhar e reconhecer que as mulheres fazem ciência de forma igual ou melhor que os homens. Não é uma questão de gênero. Essa problemática tem que ser abordada por várias frentes para que se consiga um resultado satisfatório. Mas o prêmio sem dúvida é uma dessas frentes para equilibrar essa desigualdade.  

IMPA: No 33º CBM, você fará uma palestra mais direcionada a estudantes de graduação e iniciação científica sobre os Grupoides de Lie. Há uma abordagem diferente para alcançar melhor esse público?
MS: Essa é uma abordagem realmente diferente e bem difícil, porque, por um lado, tentamos não ser muito técnicos e dar ideias, mas também, por outro, temos que ser precisos matematicamente. Queremos também que a palestra seja divertida, mas ao mesmo tempo profunda, com um conteúdo importante. Encontrar um equilíbrio entre esses pontos é difícil, porque já sabemos que a matemática requer muita linguagem para que se entenda certos problemas. Então, precisamos traduzir um pouco essa linguagem matemática a outra mais conhecida e fazer com que a mensagem continue sendo certa, com conteúdo. Acho que fazer uma palestra de divulgação é bem mais difícil do que uma palestra de pesquisa. 

IMPA: Como foi a experiência de ter cursado o pós-doutorado no IMPA?
MS: Foi bem legal. O IMPA nos fornece um ambiente tranquilo e todas as facilidades para que a gente consiga se concentrar na pesquisa sem ter que se preocupar com outras questões. Além do fato de que é um espaço muito bonito. O IMPA é uma instituição que funciona muito bem. É organizada, sempre há ajuda com questões burocráticas que acabam tirando tempo da nossa pesquisa. Há muitos visitantes estrangeiros e brasileiros, e isso gera um bom fluxo de pessoas com as quais você pode falar de matemática, beber um café. Foi uma experiência tranquila, e foi nesse período que eu consegui trabalhar em vários artigos para publicá-los em seguida. Então, foi um bom período de trabalho que gerou frutos depois. 

IMPA: Este ano, pela primeira vez, o Colóquio Brasileiro de Matemática será on-line. Quais têm sido os desafios de divulgar a ciência de forma virtual? Há vantagens também? 
MS: O formato virtual tem vantagens e desvantagens. A vantagem é que conseguimos um público bem maior, porque não há que viajar para ouvir alguém, então pessoas de todas as partes do mundo podem nos ouvir. Isso é uma vantagem enorme. Por outro lado, dar palestras virtuais nos impede de ter a troca com o público. Não podemos ver as expressões das pessoas, saber se elas estão gostando ou não, se estão entendendo. Essa comunicação mais natural se perde, assim como a troca de ideias que geralmente acontece em conferências. 

IMPA: A diversidade acadêmica, com pessoas de diferentes regiões, também é uma preocupação sua. Quais são os desafios e caminhos para isso atualmente?
MS: Eu não sou especialista nessa questão, mas posso falar do que eu tenho feito com um público que já tem acesso a internet. Tento ter uma mente aberta e ir além de profissionais que já são bem conhecidos e buscar outros que não são muito conhecidos, perguntando a outros colegas, tendo certos critérios como por exemplo convidar pessoas para trabalhos de diferentes regiões e países e de diferentes tópicos da matemática. Já tive ótimas surpresas assim com palestrantes que eu não sabia que falariam de temas tão interessantes. Talvez nós matemáticos tenhamos que ter mais essa mente aberta e ter sempre em conta essa diversidade. 

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