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09/11/2020

Na Grécia antiga, matemática era um ‘presente dos deuses’

Foto: Pixabay

Para os que não são muito chegados aos números, a matemática pode parecer uma completa abstração, desconectada da realidade. Já aqueles que gostam da disciplina conseguem identificar sua presença nos mínimos detalhes. Assim eram os gregos antigos, que consideravam a disciplina um presente dos deuses. Uma matéria da BBC explica o fascínio do filósofo Pitágoras e de seus seguidores com os padrões matemáticos, encontrados na música, nos astros em vários aspectos da vida e do universo.

“Qualquer som que você ouve é produzido por algo que está se movendo. Se você faz uma corda vibrar, ela produz um som. O que os gregos perceberam é que você pode fazer a corda vibrar duas vezes mais rápido, reduzindo seu comprimento pela metade”, explicou o matemático e músico Ben Sparks ao jornal.

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Impressionados com os sons agradáveis que emitiam os instrumentos ao tensionar uma corda ou outra, os gregos antigos estavam convencidos de que algumas proporções de notas eram um portal para o mundo dos deuses. Como a oitava, na qual a relação de frequência é de dois para um; e a quinta justa, na qual a razão entre o comprimento das cordas é de três para dois. 

“Para Pitágoras e seus seguidores, era importante descobrir o princípio que ordenava tudo, e eles o encontraram nos números. Eles explicaram as proporções em que se podia produzir sons agradáveis e com os quais era possível fazer uma música atraente ao ouvido e, consequentemente, favorecesse o espírito e a inteligência”, contou o crítico musical Ricardo Rozental.

Representados por proporções numéricas, padrões no movimento dos planetas e das estrelas observados no céu também despertaram a atenção do povo da Grécia antiga. Desta relação entre corpos celestes e sons agradáveis, eles construíram a noção de um cosmos como um todo ordenado, regido por proporções numéricas.

Mas o que fazer com as melodias que não respeitavam proporções, produzindo um som desgradável e desarmonioso? “Os pitagóricos entendiam que deviam ser evitados, uma vez que seriam capazes de gerar consequências terríveis em quem os escutasse, porque alterariam o bom equilíbrio do corpo e da mente por estar fora das leis da ordem cósmica”, afirmou Rozental.

Ainda que a cultura tenha se tornado bem mais tolerante a músicas que não respeitem as estritas proporções numéricas exaltadas pelos gregos, os padrões matemáticos são uma constante na história da humanidade. Há evidências de que marcas encontradas em ossos do período Paleolítico Superior, há 37 mil anos, foram talhadas e usadas para contar. 

A busca incessável dos pitagóricos por padrões é certamente inspiradora. A relação que traçaram entre a matemática e a música tornava a disciplina bem mais real. Para eles, a matemática era algo mais genial e elegante do que qualquer coisa que a mente humana fosse capaz de conceber.

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