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19/07/2021

No Livro Histórias Inspiradoras da OBMEP: Gabriel Marques

O hoje engenheiro aeronáutico Gabriel Marques tinha 1 ano quando ganhou dos pais, pedagogos, o primeiro brinquedo Lego, de encaixes. Com rapidez, passou para os jogos de montagem, de incentivo ao raciocínio infantil. Aos 6 anos, começou a jogar xadrez. Em 2004, aos 11, venceu o Campeonato Brasileiro de Xadrez Escolar.

Aos 24, Gabriel acredita que o gosto pelos números venha mesmo do início da infância, com a adoração que tinha pelos brinquedos rotulados como “inteligentes”. “Desde criança gosto de Matemática. Meus pais me incentivam muito”, lembra ele, que se formou em engenharia aeronáutica pela USP (Universidade de São Paulo), onde faz mestrado em Ciência de Computação e Matemática Computacional.

Empregado na XMobots Aeroespacial e Defesa, sediada em São Carlos (SP) e envolvida na fabricação e desenvolvimento de Vants (Veículos Aéreos Não Tripulados), Gabriel afirma que a participação vitoriosa em Obmeps indicou-lhe o caminho acadêmico e profissional a seguir. Logo na sua primeira Obmep, na 7ª série do Ensino Fundamental, conquistou uma medalha de prata. No ano seguinte, veio uma de ouro, feito repetido no terceiro ano do ensino médio.

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Gabriel nasceu em Junqueirópolis, no oeste paulista. Pouco depois, a família mudou-se para Cuiabá (MT). Aos 6 anos, acompanhou o pai, Paulo Roberto Marques, professor de biologia, e a mãe, Sara, professora primária, na ida a Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, onde passou a estudar no Colégio Militar. “A escola incentivava a participação em olimpíadas e competições, seja de xadrez, química, astronomia, tudo o que houvesse. Ali decidi que faria um vestibular para alguma carreira das ciências exatas. A escolha da engenharia aeronáutica veio em consequência”, diz.

O adolescente passou no vestibular da USP na 11ª colocação geral e se mudou para São Carlos. Morava em uma república de estudantes. Hoje, apesar de formado e empregado, ainda divide um imóvel com amigos. “O Picme foi de muita ajuda e importância. De imediato, é a bolsa. Vim para outra cidade. Minha família é simples (tem duas irmãs mais novas), diria que de classe média-baixa, com problemas financeiros. A bolsa ajudou a me manter em São Carlos, a comer e a pagar aluguel. Além disso, me proporcionou cursar o mestrado. O Picme foi fundamental para mim.”

Professor de química no Colégio Militar de Campo Grande e citado como um professor inspirador por Gabriel, José Leôncio Eusébio Filho conviveu bastante com o rapaz. “Gabriel sempre foi um aluno acima da média. Muito dedicado, de inteligência fácil, um adolescente tranquilo. Acompanhei sua trajetória a partir dos 13 anos, até porque ele era da sala de meu filho e vinha até nossa casa estudar. Daí pude acompanhá-lo bem. Era extremamente aplicado, sempre demonstrou uma inteligência fora do mediano. Queria eu ter 30 Gabriéis em uma sala de aula”, fala o mestre.

Para Eusébio Filho, o perfil de Gabriel no Colégio Militar indicava que teria um futuro promissor caso passasse para uma boa universidade, como ocorreu. “No colégio, sempre incentivamos os bons alunos a e buscarem universidades de primeira linha. O sonho dele era cursar engenharia aeronáutica. Mostramos a ele que a USP seria uma excelente opção. Como antevimos, Gabriel foi muito bem no curso, formou-se, fez monitorias, está no mestrado”, diz.

Ainda hoje, a Matemática é o foco de Gabriel. Ele conta que teve uma base de exatas “muito forte” em Campo Grande, onde muitos colegas também obtiveram sucesso em Obmeps. “Para ser franco, nem fui o aluno que mais se destacou nas Olimpíadas de Matemática. Nos anos em que não obtive medalha nem sequer passei da primeira fase. Participei de cinco Obmeps. Adorava Matemática, principalmente os problemas de probabilidade e contagem, chances de ganhar, jogos de dados”, afirma.

Um dos sonhos de Gabriel é lecionar em cursos universitários de engenharia aeronáutica. Ele pretende continuar em São Carlos, “cidade boa em que meu pai tinha estudado 30 anos antes e que me recebeu muito bem”. O lazer dele é voltado para os assuntos de trabalho. Gabriel relata que, nos momentos vagos, desenvolve “pequenos projetos relacionados a drones” e diverte-se com uma impressora 3-D, recém-adquirida. Por enquanto, afirma, “nem penso em (constituir) família”.

No cotidiano do trabalho, o engenheiro dedica -se ao planejamento, pesquisa, desenvolvimento e fabricação de drones – empregados principalmente na agricultura de precisão, topografia, mapeamento e mineração. Sua família continua em Campo Grande. O pai assegura que não influenciou em nada o filho. “Sou professor de biologia. Gabriel era péssimo em biologia”, rememora Paulo Roberto, meio de brincadeira, meio a sério.

Para a mãe, desde pequeno Gabriel indicava que seguiria uma carreira relacionada à Matemática. Ela afirma que o filho não passava horas e horas trancado para estudar. “Não digo que ele era estudioso. Ele aprendia, pegava (o assunto) muito rápido. Tudo o que fazia, fazia bem feito e se destacava. Prestava muita atenção nas aulas. Mas, seguramente, não era muito estudioso”, conta.

Sara Maia Marques destaca o sucesso no xadrez, ainda bem pequeno, como um marco na vida da Gabriel. “Ele jogava xadrez com o pai desde menino. Acabou campeão brasileiro escolar. A conquista levou-o a disputar na Colômbia o Pan-Americano de xadrez. Lembro dele todo fim de semana participando de torneios de xadrez. Depois veio a natação, sempre com destaque. O lazer dele eram as competições. Seu grupo de amizade acabou sendo esse”, relata. Professora como o marido, Sara diz que buscou mostrar aos filhos a importância do estudo na formação da criança e do adolescente.

“Nós somos pobres. Sempre falamos que a melhor maneira de se dar bem na vida é estudando. Sinto muito orgulho dele. Quando conquistou a medalha da Obmep recebeu o título de cidadão campo-grandense. Tinha 14 anos. Estava cercado por adultos, pelo prefeito, pelo governador. Tudo aconteceu muito rápido para ele. Passou da escola para a USP, não teve nem tempo de respirar. A bolsa do Picme ajudou muito, porque não tínhamos condições de bancar a estadia dele em São Carlos”, afirma, emocionada.

*Texto retirado do livro “Histórias Inspiradoras da OBMEP

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