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03/07/2024

Na Folha, Viana desconstrói antítese entre humanas e exatas

Lewis Carroll, matemático e autor de “Alice no País das Maravilhas”

 

Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo

Passei o fim de semana na Feira do Livro em São Paulo para o lançamento do meu livro “Histórias da Matemática”, antologia de colunas que escrevo nesta Folha desde 2017. Ocasião para voltar a meditar sobre a relação íntima entre literatura e matemática e a suposta antítese entre “humanas” e “exatas”.

Um jornalista conhecido surpreendeu-se com o livro “agradável de ler” escrito por um matemático. “Eu achava que nós de humanas sabíamos escrever, e o pessoal de exatas fazia contas”, explicou-me. Já eu gosto de provocar os colegas com a afirmação enfática de que a matemática é a mais humana das ciências, sem deixar de ser a mais exata.

A antítese é invenção recente. Seguindo Platão, o ensino medieval dividia o conjunto do conhecimento em sete artes, organizadas no trivium (gramática, retórica e lógica) e no quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia), todas indispensáveis a uma formação completa. E a fronteira entre matemática e literatura era difusa.

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O persa Omar Khayyam (1048-1131), a quem é atribuída a coleção de poemas “Rubaiyat”, era matemático: trabalhou na resolução das equações cúbicas e também aprofundou a discussão do postulado das paralelas de Euclides. O “pai da literatura inglesa”, Geoffrey Chaucer (1343-1400), autor dos “Contos da Cantuária”, também escreveu um “Tratado do Astrolábio”. E Lewis Carroll (1832-1898), autor de “Alice no País das Maravilhas”, era matemático por profissão e ficcionista por passatempo.

Diversos autores lançaram mão de regras matemáticas para condicionar a narrativa literária, reforçando os temas do texto. Por exemplo, em “A Vida Modo de Usar”, do francês Georges Perec (1936-1982), a ação se desloca entre os cômodos de um imóvel parisiense conforme o movimento do cavalo no tabuleiro de xadrez. Mas a influência mútua também pode ir na direção oposta: na tradição clássica indiana era comum formular fatos matemáticos na forma de poemas para facilitar a sua comunicação.

O matemático inglês G. H. Hardy (1877-1947) entendia o que une a matemática às artes: “Tal como o pintor ou o poeta, o matemático é um criador de padrões. Se os seus padrões são mais permanentes é porque são feitos de ideias. Esses padrões, tais como os do pintor ou do poeta, devem ser belos: as ideias, tais como as cores ou as palavras, devem se relacionar de forma harmoniosa”.

Sofia Kovalevskaya (1850-1891), a primeira mulher com doutorado em matemática, foi além. “É impossível ser matemático sem ter alma de poeta… o poeta precisa olhar mais fundo, ver o que outros não veem …. e o matemático precisa fazer o mesmo.”

Para ler o texto na íntegra, acesse o site do jornal.

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