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23/06/2020

Clara Lage defende tese de doutorado na quinta-feira (25)

Se o isolamento social adotado em decorrência ao coronavírus teve algum ponto positivo na vida de Clara Lage, foi o fato de trazer certa tranquilidade durante a reta final da tese de doutorado. Da França, ela defende na próxima quinta-feira (25), às 12h, o trabalho “Qualidade do Sinal de Preço em Otimização Estocástica para Energia”, por videoconferência. Haverá transmissão pelo canal do IMPA no YouTube

“Foi um momento difícil, pois a concentração diminuiu e estava tentando entender também o que se passava ao redor, as consequências da pandemia. Mas, de forma geral, o ambiente de trabalho foi calmo”, pondera. 

Na tese, Clara explora uma função capaz de descrever ao máximo um determinado objetivo, como eficiência ou lucro. Também são descritas as restrições naturais que existem, como por exemplo, a capacidade de produzir e os custos envolvidos no processo. “O campo de pesquisa se chama otimização estocástica pois dentro desse processo consideramos sempre que algo é aleatório, que há algo de probabilístico no problema, seja na função que se deseja maximizar, ou nas restrições.” 

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As técnicas desenvolvidas e aplicadas têm como objetivo mapear deficiências relacionadas à geração de energia onde há significativa participação de hidrelétricas para se pensar em soluções. Para obter precisão em resultados reais, firmou uma parceria com a empresa francesa Engie que forneceu algoritmos e dados. 

Clara considera as diversas aplicações da área de otimização, incluindo as principais tecnologias desenvolvidas hoje, estímulo para se aprofundar no tema. “Gosto de compreender como as coisas funcionam e, ao mesmo tempo, gosto da estrutura da matemática onde tudo precisa ser justificado de forma rigorosa.” 

Para ela, a matemática é uma linguagem capaz de traduzir o pensamento mais rigoroso que o ser humano conseguiu alcançar. “É falar sobre algo onde conhecemos todas as definições e variáveis. É também uma ferramenta importante para compreensão do mundo e das tecnologias presentes na nossa vida.”

Natural de Florianópolis (SC), teve poucos sonhos em relação à profissão, mas se diz inspirada pelos pais professores. Durante a adolescência, aproximou-se das matérias de exatas e descobriu que o campo “não era tão distante quanto pensava”. “Mas quando cogitava fazer engenharia, por exemplo, tinha receio de fazer todas aquelas disciplinas sobre coisas tão diferentes e, no final, não saber nada com profundidade.” 

Agora, a futura doutora em matemática prepara-se para a despedida ao IMPA, depois de quase sete anos ligada à instituição. “Conheci o IMPA no Curso de Verão, durante o segundo ano da faculdade e através dos livros que usava na graduação em matemática e computação científica pela Universidade Federal de Santa Catarina.” 

Em seguida, fez as malas em direção ao Rio de Janeiro, onde deu início à pós-graduação. “O mestrado no IMPA foi uma etapa muito rica porque fiz amigos que penso em levar para toda a vida e porque vivi em outra cidade, o que é uma experiência importante”, destaca. “Fiz disciplinas de muitas áreas, aprendi muito e me aprofundei na área de probabilidade.”

A transição para a pesquisa em otimização “foi por acaso”, Instigada pelo campo das aplicações matemáticas, Clara procurou por professores que pudessem conduzi-la na nova etapa. Sob orientação de Mikhail Solodov, trabalhou também com a co-orientadora Claudia Segastizábal e com o supervisor na Engie, Guillaume Erbs. Mesmo assim, a probabilidade não ficou para trás. Ao destrinchar particularidades do sistema de geração elétrica, “o fato da previsão do tempo ser incerta constitui a parte aleatória do problema”. 

Um dos principais frutos acadêmicos, até o momento, foi o artigo “Multiplier Stabilization Applied to Two-Stage Stochastic Programs”, voltado para o campo teórico, onde fala sobre as bases matemáticas que estudou. “Há um outro artigo a caminho, que deve sair logo depois do doutorado e é mais do campo prático. Nele, falo sobre os dados da parceria com a Engie.” 

Depois da defesa, Clara faz planos para cursar pós-doutorado e para “tentar se encontrar na área de pesquisa”. Os objetivos da futura pesquisadora extrapolam a própria carreira. “Espero em algum momento poder contribuir, na pesquisa e fora dela, para que as pessoas em geral tenham uma melhor compreensão do que é ciência e como a matemática pode nos ajudar a pensar o mundo, para além da universidade.”

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