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08/07/2020

Marcia Barbosa: ‘Cientista virou super-herói destruidor de mitos’

“A pandemia transformou os cientistas em uma espécie de ‘super-herói’ destruidor de mitos”, afirmou Marcia Barbosa, pesquisadora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “As pessoas começaram a não acreditar no que nós falamos e o que mais ouvimos hoje sobre ciência são mitos.” Marcia foi uma das participantes do webinar “Ciência e Matemática: da crise ao desenvolvimento”, realizado nesta quarta-feira (8) pelo IMPA, em comemoração ao Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, comemorado na mesma data. 

Mediada pelo jornalista Marcelo Soares, diretor da Lagom Data, a conversa também contou com a participação do diretor-adjunto do IMPA, Claudio Landim, e de Claudia Sagastizábal, pesquisadora do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da Unicamp. Os pesquisadores conversaram sobre o papel da ciência no desenvolvimento, o trabalho de um pesquisador e a necessidade de diálogo da categoria com a sociedade, evidenciada pela Covid-19.

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Em sua apresentação, Marcia Barbosa destacou algumas das lendas que permeiam o imaginário da população brasileira quando o assunto é ciência. “O primeiro mito brasileiro é que nós gastamos muito em ciência”, disse a física, pontuando que o investimento do país no setor equivale a menos de 1% de seu Produto Interno Bruto (PIB), percentual muito abaixo de outros países. A pesquisadora também apresentou o Projeto Ciência Gera Desenvolvimento, da Academia Brasileira de Ciências

“Selecionamos histórias de alguns cientistas brasileiros que fizeram descobertas que obviamente resultaram em desenvolvimento”, explicou. Uma das personagens retratadas pela iniciativa é a da engenheira agrônoma Johanna Döbereiner, conhecida por seu trabalho na produção de soja no Brasil. “A partir da luta dela, de convencer o governo que tínhamos que produzir soja de um jeito diferente dos gringos, nós conseguimos transformar o Brasil em um dos grandes produtores de soja do mundo.”

“O que fazer com seu conhecimento? Esta é a pergunta que permeia o início da carreira de muitos pesquisadores, e são vários os caminhos que podem ser percorridos. Se dedicar a resolução de um problema sem resposta e focar em transmitir amplamente os conhecimentos adquiridos para os seus alunos são alguns deles”, apontou Landim.

Além da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), o diretor-adjunto do IMPA mencionou outras iniciativas do instituto que buscam estimular o ensino da matemática. “Temos nos engajado em criar uma produção de material didático. O Portal da Matemática torna a disciplina acessível a jovens de todo país através de vídeos. Também criamos uma literatura voltada para o ensino básico baseada na resolução de problemas, tentando estimular jovens que gostam de matemática a aprofundar seus conhecimentos.”

Claudia Sagastizábal falou do trabalho no CeMEAI CEPID (Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria da Universidade de São Paulo) sob a perspectiva da comunicação entre a academia e a indústria. Financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o centro reúne profissionais de diferentes áreas e universidades para solucionar problemas reais de empresas. Segundo a pesquisadora da Unicamp, a interdisciplinaridade é um fator essencial para o sucesso desta parceria.

“Vejo a matemática como o elemento unificador entre as disciplinas. É uma linguagem universal. E ela faz isso através da modelagem de fenômenos”, comentou. Aplicar a matemática como elemento unificador que permite a cientistas de áreas diferentes interagirem é o que Claudia chama de “matemática industrial do bem”, cultura que vem sendo difundida pelo CeMEAI. “Diferente da teoria, os modelos são imperfeitos. Mas eles aportam muitas informações que podem servir para a construção de novas teorias.”

A comunicação da academia com a sociedade também é um dos principais objetivos do Blog Ciência & Matemática, do Jornal O Globo, pontuou Landim, que coordena o espaço. “Em um Brasil de achismos, onde todo mundo se permite opinar sobre qualquer assunto, o Blog dá a palavra para esses conhecedores poderem exprimir opiniões de forma fundamentada.” Para o pesquisador, o fato de cientistas não serem ouvidos no país explica-se não só pela desvalorização da sua palavra na sociedade, mas também na inibição de pesquisadores a ocupar espaços na mídia.

Assista ao webinar “Ciência e Matemática: da crise ao desenvolvimento”:

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