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21/07/2020

Brasileira vence pela quarta vez desafio da Apple

Foto: Acervo pessoal

Cada experiência que vivemos promove uma sensação única, e disso a estudante de ciência da computação Karina Tronkos entende bem. “Qual é a melhor forma de explicar para quem vê o mundo de todas as cores, o que é o daltonismo, por exemplo? Fiz isso através do storytelling. Trabalho como UX (user experience) designer e procuro desenvolver aplicativos para o sistema iOS, buscando aproximar os usuários das mais diferentes realidades, com foco em acessibilidade e educação.” Em 2020, e pelo quarto ano consecutivo, ela foi uma das vencedoras do concurso Swift Student Challenge, a conferência internacional da Apple para desenvolvedores. É a única brasileira a realizar o feito.

A cerimônia de premiação deste ano aconteceu em 22 de junho e precisou ser adaptada, o que não foi desafio algum para quem já está completamente imerso na universo tecnológico. “Foi 100% remota por conta da pandemia do novo coronavírus. Mas isso permitiu que pessoas do mundo inteiro pudessem participar. Durante uma semana, os vencedores participaram de eventos e palestras. É uma troca muito rica”, destaca a jovem de 23 anos. “Além do reconhecimento, ganhamos uma conta para lançar aplicativos no sistema iOS e temos acesso a engenheiros da Apple que fazem uma espécie de consultoria aos nossos projetos.”

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Perto de concluir os estudos no Departamento de Informática da Pontifícia  Universidade Católica (PUC), no Rio de Janeiro, Karina não se vê atuando em outra área. “Comecei a querer saber mais sobre apps durante meu primeiro estágio em um laboratório da PUC em parceria com a Apple Development Academy, uma iniciativa para fomentar o iOS no Brasil, que acontece no Rio e em outros estados.” As quatro horas diárias de trabalho acabavam se prolongando, e em meio a criações e desenvolvimento de produtos, a estudante viu despertar o interesse pela área de design. 

“Estar no laboratório me encorajou a fazer a inscrição no Swift Student Challenge. Não fui aprovada na primeira vez, mas em 2017, quando recebi o resultado, nunca gritei, chorei e pulei tanto na minha vida. Já era estagiária na TV Globo, e meu chefe me perguntou o que estava acontecendo e só respondi, ‘eu também não sei’”, diverte-se. “Muitos brasileiros participam do desafio e estão entre os vencedores, mas nos falta conhecer melhor as oportunidades disponíveis.”

Pietro Pepe, medalhista da OBMEP, venceu desafio da Apple 3 vezes

Pietro Pepe, medalhista de prata na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), também coleciona premiações da competição da Apple. Assim como Karina, Pietro participou da turma do programa de estágio da Apple Academy no Brasil, no DI da PUC-Rio, e ficou entre os vencedores do Swift Student Challenge em 2017, 2018 e no ano passado. 

“Os aplicativos que desenvolvi e foram premiados estavam relacionados à matemática. Ordem numeral, atividade com múltiplos comuns, função de gráficos e matrizes foram alguns dos tópicos que consegui mostrar aplicabilidade no dia a dia. Como em curso on-line de edição de fotos, por exemplo.” Pietro destaca também que ter participado do programa e da competição fizeram diferença na hora de entrar no mercado de trabalho. “Antes de começar a estagiar, tinha a preocupação se estaria perdendo meu tempo livre ou se iria aprender algo, de fato, que fizesse a diferença. Mas estar ali com aquelas ferramentas tecnológicas fazia a diferença. Você ser pago para fazer aquilo que gosta e poder desenvolver novas habilidades é muito bom”, destaca. 

Para propagar a iniciativa e mostrar que vencer desafios de programação da Apple pode ser uma conquista real, Karina está elaborando o site WWDC Scholars Brasil junto a outros dois vencedores, Ailton Filho e Matheus Campiolli. “Sempre achamos que os projetos vão dar de mil a zero no nosso, mas não deve ser por aí. Entre os quesitos avaliados, estão também o contexto do participante, o que a pessoa levou em consideração na hora de criar o app e possíveis aplicações. A questão visual também tem um peso importante”, indica. 

Os aplicativos desenvolvidos por Karina que receberam o prêmio já privilegiaram diferentes campos do conhecimento. Na competição de 2017, a UX designer criou um programa destinado a crianças para mostrar o comportamento dos órgãos do corpo humano. No ano seguinte, traduziu “na prática” o daltonismo, ao desenvolver o aplicativo que trazia a experiência para pessoas que veem todas as cores. 

Em 2019, o app premiado criava uma experiência interativa sobre a história da astrônoma Nancy Grace Roman. E mantendo a temática dos planetas do sistema solar, o aplicativo deste ano promove uma experiência sobre a Estação Espacial Internacional. 

Pelo página no Instagram @nina_talks, Karina reúne mais de 30 mil seguidores e recebe diariamente centenas de mensagens de quem quer migrar para a área de tecnologia. “São pessoas que estão entrando na faculdade ou já atuam no mercado de trabalho, mas querem investir no meio digital. A dúvida é quase sempre por onde começar a estudar UX designer.” 

Não existe nenhum atalho digital: a dica dela é estudar. “E vale começar por conta própria, em casa mesmo, antes de investir em um curso caro. Há muita coisa disponível na web”, recomenda. Tendência que tem aumentando durante a pandemia, e que tende a crescer em um futuro próximo, conforme observa a jovem. “As pessoas estão vendo o quanto a tecnologia é importante e têm se interessado mais por programação. Imagino que, no ano que vem, isso se reflita também no desafio da Apple, aumentando o número de participantes”, diz sobre a competição que já faz planos, mas sem expor maiores detalhes. “O próximo projeto ainda é segredo.”

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