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01/07/2021

Quais os efeitos de não estudarmos matemática?

Crédito: Pixabay

Reprodução do blog do IMPA Ciência & Matemática, de O Globo, coordenado por Claudio Landim

Débora Foguel, Professora do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Ainda (e para sempre…) devastada com a marca dos 500.000 brasileiros mortos pela pandemia atingida no último fim de semana, em especial por ter certeza de que a maior parte dessas mortes seria evitável, decidi por escrever nesse mês sobre um estudo recentemente publicado no prestigioso periódico PNAS (2021, Vol 118) e que relata uma pesquisa sobre o aprendizado da matemática e o desenvolvimento do cérebro de jovens no Reino Unido. Afinal, esse é um Blog do Instituto de Matemática Pura e Aplicada e o estudo em tela envolve neurobiologia, tema que muito me interessa e alegra. E, nesse momento, essas pequenas alegrias são necessárias…

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Um fato que eu desconhecia, e que aprendi nesse artigo, é que na Inglaterra e também na Índia, os estudantes a partir de 16 anos podem optar por continuar ou não a estudar matemática.

Dessa forma, a ideia dos pesquisadores foi de investigar o impacto no cérebro dos estudantes de se estudar ou não matemática. Estudos anteriores de neurobiologia já apontaram que os lobos frontal e parietal (parte de cima) do cérebro estão diretamente envolvidos na cognição matemática. No entanto, ainda não havia relatos sobre o que acontece com essas regiões do cérebro quando não se estuda matemática, nem sobre a concentração de neurotransmissores que antecedem as possíveis alterações morfofuncionais do cérebro.

A coorte utilizada no estudo é interessante, pois nela todos estudam as mesmas disciplinas e a única diferença é que uma parte do grupo estuda matemática avançada por escolha própria e outro não. Ou seja, os grupos são parecidos já que têm mesma idade, distribuição de gênero, nível socioeconômico etc. Além disso, numa segunda abordagem, os autores investigaram o cérebro de estudantes que já tinham feito a escolha “matemática sim ou não”, mas ainda não tinham iniciado os estudos em matemática avançada. Essa abordagem é fundamental para sabermos se as diferenças observadas no cérebro dos que estudam matemática ou não estavam lá antes do início dos estudos matemáticos.

Para endereçar todas essas questões, os autores utilizaram técnicas de ressonância magnética (RM) para avaliar duas regiões específica do cérebro associadas ao ‘numeramento’ (‘numeracy’) e sua conectividade, a saber, o sulco intraparietal (SIP) e o giro da região frontal média (GRF). Os autores também avaliaram o papel de neurotransmissores, mas aqui só lhes contarei sobre o ácido gama-aminobutírico (GABA), um neurotransmissor que regula negativamente (inibe) a excitabilidade neuronal no cérebro dos adolescentes, já que foi o único neurotransmissor investigado que apresentou correlação.

Em conjunto, esses resultados reforçam que GABA está relacionado ao desempenho cognitivo e ao papel do córtex frontal na cognição de alto desempenho matemático, como a capacidade de resolver problemas, que são habilidades aprendidas e que requerem plasticidade neural. Ainda não sabemos como o excesso desse neurotransmissor inibitório nessa região específica do cérebro afeta outras regiões e outras capacidades cognitivas. Além disso, ficou evidente que a falta de oportunidades educacionais pode levar a alterações neurais e cognitivas. Isso se torna ainda mais relevante em tempos de pandemia, em especial nos países que não trataram a educação como atividade primordial que mereceria toda nossa atenção, cuidado e respeito!

Para ler o texto na íntegra acesse o site do jornal

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