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09/05/2018

Ailton Nascimento e os segredos em duas dimensões

A Matemática ainda é um tabu em diversas partes do mundo. Em Teresina, capital do Piauí, não é diferente. A cidade nordestina ainda mantém a cultura de que profissão boa para o filho seguir é aquela que pode trazer estabilidade, dinheiro e até algum renome.

Não à toa, muitos pais incentivam a prole a seguir carreira em Medicina, Engenharia ou Direito. Cursos tradicionais, formam profissionais liberais que são importante na cultura econômica e social de uma cidade. E matemático faz o quê?

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A pergunta foi recorrente na vida de Ailton Campos do Nascimento quando desistiu, há uns dez anos, de cursar Nutrição para seguir a paixão pela Matemática. Os amigos ainda hoje fazem “bullying” por sua escolha. Não conseguem enxergar a universalidade da formação do matemático e dos inúmeros campos de trabalho em que pode atuar.

Já a família deu todo o apoio necessário ao menino, que desistiu de ser engenheiro civil e construir prédios e pontes para passar os dias nas salas de aula, onde aprendeu a enxergar o mundo em muitas dimensões.

O caminho até defesa de tese de doutorado no IMPA, às 15h30 desta quinta-feira (10), foi como a de muitos outros jovens que adoram os números. Por intermédio de professores do Ensino Médio, Nascimento descobriu um jeito diferente de enxergar a matéria.

Isso foi suficiente para que a curiosidade se transformasse em amor mesmo. “Comecei a estudar Matemática. Vi que a coisa era bonita, e essa beleza acabou me cativando”, conta.

Nem as primeiras aulas no curso de Nutrição o fizeram mudar de ideia. Nesta hora, o dinheiro pouco importou.

A pessoa que segue a carreira na Matemática tem que ter uma afinidade [com a disciplina] que só ela tem. Às vezes, as outras pessoas não conseguem entender. Parte da minha família aceitou muito bem. Os amigos, em geral, me chamavam de louco, diziam que não iria ganhar dinheiro. Mas, se você é apaixonado pela Matemática, quer ser um matemático, o desejo simples de ser bem-sucedido financeiramente não vai te satisfazer. Você realmente tem uma paixão maior.”

Graduado e mestre em Matemática pela Universidade Federal do Piauí, Nascimento chegou ao IMPA pela trilha que definira ao optar pela profissão. Sabia que o instituto era referência nos cenários nacional e internacional, e queria fazer parte disso. Só não imaginava o quanto descobriria.

“No meu ponto de vista, o grande diferencial de estudar no IMPA foi perceber que a Matemática é muito mais universal do que imaginava. Existe uma gama de áreas, de pesquisadores e pessoas trabalhando em diversos problemas simultaneamente. Você vê que era apenas um pontinho no mar, mas há um oceano enorme. O IMPA me permitiu a oportunidade de me universalizar.”

Especialista na área de Equações Diferenciais Parciais (EDP), Nascimento foi orientado pelo venezuelano naturalizado brasileiro Felipe Linares. Com a ajuda do pesquisador, desenvolveu a tese “Propagação de Regularidade para Soluções de Modelos Dispersivos em 2D”.

O trabalho de Nascimento usa equações do tipo dispersivas para provar que o fenômeno de propagação de regularidade pode ser estudado sobre modelos dispersivos em duas dimensões.

Para quem não está familiarizado com o tema, o matemático explica que as EDPs são usadas, em geral, por físicos para tratar de problemas práticos por meio da chamada modelagem matemática. Assim, os físicos modelam fenômenos com a linguagem matemática (as EDPs). Os resultados voltam aos matemáticos, que estudam qualitativamente para verificar se há solução para as questões.

Prestes a voltar a Teresina com o título de doutor, Nascimento revela o desejo de continuar se dedicando à pesquisa. Por hora, quer conquistar uma posição fixa como professor em alguma instituição — atualmente é professor substituto na UFPI. Depois, pensa em retomar os estudos em um pós-doc.

SERVIÇO:

Defesa de tese de Ailton Campos do Nascimento

“Propagação de Regularidade para Soluções de Modelos Dispersivos em 2D”

Data: 10 de maio | Horário: 15h30 | Local: sala 232

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